Agora Eu vou à Mamãe.
Jesus sai, e sobe pela escadinha externa, chegando ao terraço, que está sobre a casa, cobrindo talvez a metade dela, enquanto a outra metade está ocupada por um vasto salão, do qual estão vindo as vozes grossas dos homens e, nos intervalos, a voz doce de Maria, a límpida voz virginal de menina, que os anos não conseguiram fazer desafinar, aquela mesma voz que pronunciou as palavras: “Eis aqui a escrava do Senhor”, e que depois cantou o canto de ninar para o seu Menino.
Jesus se aproxima, sem fazer barulho, sorrindo porque está ouvindo sua mãe dizer:
– A minha morada é o meu Filho. E não sinto pena por estar fora de Nazaré, a não ser quando Ele está longe. Mas, se estiver perto de mim… oh! nada mais me falta. E também não me preocupo pela minha casa. Porque aqui estais vós…
– Oh! Olha lá Jesus –grita Alfeu de Sara que, estando virado para a porta, é o primeiro a ver Jesus.
– Estou aqui, sim. A paz esteja com todos vós. Minha mãe!
Beija sua mãe na fronte, e por ela é beijado. Depois, vira-se para os hóspedes inesperados, que são o seu primo Simão, Alfeu de Sara, o pastor Isaque e aquele José, que tinha sido acolhido por Jesus em Emaús, depois do veredito do Sinédrio.
– Nós tínhamos ido para Nazaré, mas Alfeu nos disse que precisava vir aqui. Então, viemos. E Alfeu quis acompanhar-nos, e Simão também –explica Isaque.
– Pareceu-me um sonho poder vir –diz Alfeu.
– E eu também queria te cumprimentar, estar um pouco contigo e com Maria –termina Simão.
– Eu estou muito contente por estar convosco. Fiz bem em não ficar mais tempo, como queriam os habitantes de Kedeque, onde Eu tinha chegado, quando fui de Guerguesa até o Meron, passando pelo outro lado.
– É de lá que estás vindo?
– Sim. Eu Me fiz ver nos lugares onde já tinha estado, e também em outros. Fui até Gíscala.
– Que caminhada!
– Mas também, que colheita! Sabes, Isaque? Fomos hóspedes do rabi Gamaliel. Ele foi muito bom. Depois, encontrei-me com o sinagogo de Águas Belas. Ele também vem. Entrego-o aos teus cuidados. E depois… adquiri três discípulos…
Jesus sorri abertamente, todo feliz.
– Quem são eles?
– Um velhinho, em Corozaim. Eu o ajudei por algum tempo, o pobrezinho, que é um verdadeiro israelita sem prevenções, para mostrar-me o seu amor, preparou para Mim toda a região, como um perfeito arador prepara o solo. O outro é um menino: tem cinco anos, ou pouco mais. É inteligente, corajoso. Também a ele Eu tinha falado, desde a primeira vez que fui a Betsaida, e ele se recordou disso melhor do que os grandes. O terceiro é um antigo leproso. Eu o curei perto de Corozaim, numa tarde, há já bastante tempo, e depois o deixei. Agora o reencontrei como meu anunciador nos montes de Neftali. E, para confirmar as suas palavras, ele costuma levantar os restos de suas mãos, curadas, mas parcialmente mutiladas, e mostra também os seus pés curados, ainda que deformados, com os quais ele anda por tantas estradas. O povo pode fazer uma ideia de quanto ele estava doente, ao vê-lo, e crê nas palavras dele, temperadas com suas lágrimas de reconhecimento. Para Mim foi fácil falar por lá, porque havia alguém que já me havia tornado conhecido, e persuadido os outros a crerem em Mim. Pude fazer muitos milagres. Tudo isso pode alcançar quem crê de verdade…
Alfeu concorda sem falar, concorda continuamente movendo a cabeça, enquanto Simão inclina a fronte, sob a repreensão que se subentende, e Isaque se alegra abertamente com a alegria do Mestre, que está para contar o milagre operado, pouco, antes sobre o neto de Eli.