Fecham a porta da casa e põem-se a caminho. O dia já está perto de raiar, pois estou vendo a aurora cor-de-rosa, mas só do lado do Oriente. Nazaré ainda está dormindo. Os dois viajantes madrugadores encontram apenas um pastor, que toca para a frente as suas ovelhinhas; elas vão trotando e esbarrando umas nas outras, aqui e ali, encaixadas umas entre as outras, como se fossem cunhas, berrando sem parar. Os cordeirinhos também berram, e mais do que as ovelhas, com sua voz aguda e débil. Mesmo precisando ir para a frente, o que eles mais gostariam de fazer seria procurar as tetas da mãe. Mas as mães se apressam para chegar às pastagens, e os convidam, com seu balido mais forte, a trotar com elas.
Maria fica olhando, e sorri. Ela parou para deixar passar a manada, e se inclina sobre sua sela para acariciar os mansos animaizinhos, que vão passando rentes ao burrinho. Quando o pastor chega perto, levando nos braços um cordeirinho que acabou de nascer, pára perto de Maria para saudá-la; ela sorri, acariciando o focinho rosado do cordeirinho, que berra sem consolo, e lhe diz: “Está procurando a mamãe. Aqui está a mamãe. Ela não te deixa, não, pequenino”. De fato, a ovelha mãe vai roçar-se no pastor, e se levanta para lamber o focinho do seu filhote.
A manada vai passando e fazendo barulho como o da chuva sobre as copas das árvores, deixando atrás de si a poeira levantada pelos casquinhos, que sobem e descem, deixando as marcas de suas pegadas no chão da estrada.
José e Maria retomam o caminho. José, com seu manto grande, Maria, com uma espécie de xale listrado, pois a manhã está muito fria.
Ao chegarem no campo, Maria está perto de José. Pouco falam. José pensa em seus trabalhos, e Maria continua com seus pensamentos; recolhida como está, sorri aos pensamentos e às coisas quando, saindo um pouco daquela sua concentração, gira o olhar sobre tudo o que a rodeia. De vez em quando, olha para José, e um véu de seriedade e tristeza lhe ensombra o rosto. Depois, volta-lhe o sorriso, até mesmo ao olhar para este seu esposo, tão previdente, e de poucas palavras, mas que, quando fala, é para perguntar-lhe se tudo vai indo bem e se não está precisando de alguma coisa.