Jesus com os seus viram à esquerda.
Eis a eira com o poço e o forno ao fundo, e uma macieira ao lado e eis a porta escancarada da cozinha na qual vê-se aceso um fogo de gravetos e um homem consertando um utensílio agrícola quebrado.
– Paz a esta casa. Venho te pedir abrigo, por esta noite, para Mim e para os meus companheiros –diz Jesus sobre a soleira da porta.
O homem levanta a cabeça.
– Entra –diz ele–, e que Deus te dê a paz que me ofereces. Mas… paz aqui! A paz é inimiga de Jacó, já de algum tempo. Entra, entra!! Entrai todos. O fogo é a única coisa que posso dar-vos com abundância… porque… Oh! mas… mas Tu, agora que tiraste o capuz (Jesus tinha coberto a cabeça com a orla do manto, conservando-o seguro com a mão sob o pescoço) e te vejo bem… Tu és, sim, és o Rabi Galileu, o que dizem que é o Messias e que faz milagres… És Tu? Diz em nome de Deus.
– Sou Jesus de Nazaré, o Messias. Tu me conheces?
– Eu te ouvi falar na casa de Judas e Ana, na lua passada… eu estava entre os vindimadores porque… eu sou pobre… Uma série de infortúnios: granizo, as lagartas, doenças nas plantas e nas ovelhas… Para mim, só com uma serva, bastava o que eu tinha. Mas agora eu contraí dívidas, porque estou sendo perseguido pela má sorte… Para não ter que vender todas as ovelhas, trabalhei nas propriedades dos outros… Os meus campos!! Parecia até que a guerra houvesse passado por eles, de tão queimados que estavam, com suas videiras e oliveiras improdutivas. Desde que minha mulher morreu, e já são seis anos, parece que Mamon está divertindo-se comigo. Estás vendo? Eu estou trabalhando com este arado. Mas a madeira está toda quebrada. Como é que eu faço? Não sou carpinteiro, e amarro, amarro. Mas não adianta. E preciso também poupar o dinheiro, agora… Venderei mais uma ovelha para poder consertar os utensílios. O telhado tem goteiras… mas estou mais preocupado com o campo do que com a casa. É uma pena! As ovelhas estão todas prenhes… eu esperava refazer o rebanho… mas…
– Vejo que vim dar incômodo, onde já há tanto incômodo.
– Incômodo, Tu? Não. Eu te ouvi falar e… em meu coração ficou aquilo que disseste. É verdade que tenho trabalhado honestamente, contudo… Mas acho que não era ainda bom o bastante. Acho que talvez boa era a mulher, que tinha pena de todos, pobre Lia, morta tão cedo, muito cedo para o seu marido… Acho que o bem-estar daqueles tempos vinha do Céu por meio dela. E quero tornar-me melhor por causa daquilo que Tu dizes, e para imitar a minha esposa. E não peço muito… só de permanecer nesta casa, onde ela morreu, onde eu nasci… e ter um pão para mim e para a serva, que para mim é mulher e pastora, e me ajuda como pode. Não tenho mais servos. Tinha dois, e me bastavam, trabalhando eu também, nos campos e no olival… Mas tenho pão só para mim, e ainda é escasso…
– Não te prives dele por causa de nós…
– Não, Mestre. Ainda que tivesse só um pedaço, eu o daria a Ti. Para mim é uma honra ter-te em minha casa… Nunca o teria esperado. Mas, se te conto as minhas misérias, é porque Tu és bom e compreendes.
– Sim, Eu compreendo.