Mas Salomé quer dar e receber alguma coisa que seja mais do que uvas e carícias. E depois de ter parado um pouco, pensativa, olhando para Jesus e olhando para Zebedeu, decide. Vai ao Mestre, que está sentado com as costas apoiadas na mesa e ajoelha-se diante Dele.
– Que queres, mulher?
– Mestre, Tu decidiste que tua Mãe e a mãe de Tiago e Judas vão Contigo e também Susana vai, e certamente também a grande Joana de Cusa irá. Todas as mulheres que te veneram irão, se qualquer uma pode ir Eu quereria ir também. Leva-me, Jesus. Eu te servirei com amor.
– Tu tens que cuidar do Zebedeu. Não o amas mais?
– Oh! Se o amo! Mas eu amo mais a Ti. Oh! Não quero dizer que te amo como homem. Tenho sessenta anos e há quase quarenta que estou casada, e nunca vi outro homem, que não fôsse o meu. Louca, agora que sou uma velha, não vou ficar. Nem, porém, pela velhice, morre o meu amor pelo meu Zebedeu. Mas Tu… Eu não sei falar. Sou uma pobre mulher. Falo como sei. E é isto, ao Zebedeu eu amo com tudo o que era antes. Mas a Ti eu amo com tudo aquilo que soubeste fazer vir em mim com as tuas palavras e com as que me foram ditas por Tiago e por João. E é uma coisa bem diferente… mas tão bela.
– Não será tão bela como o amor de um ótimo esposo.
– Oh! Não. É o muito mais!! Oh! Não leves a mal, Zebedeu !Eu te amo ainda com toda mim mesma. Mas a Ele eu amo com alguma coisa que é ainda Maria, mas que não é mais Maria, a pobre Maria tua esposa, mas é mais do que isto… Oh! eu nem sei explicar!
Jesus sorri para a mulher, que não quer ofender ao marido, mas não pode calar-se, diante do seu grande e novo amor. Também o Zebedeu sorri gravemente, aproximando-se da mulher que, continuando de joelhos, vira-se sobre si mesma para olhar, ao esposo e a Jesus, alternadamente.
– Mas sabes, Maria, que terás que deixar a tua casa? Tu, que aqui cuidas de tantas coisas! Os teus pombos… as tuas flores… e esta videira que produz aquela uva doce de que tanto te orgulhas… e as tuas colmeias, as mais famosas do povoado… e não mais aquele tear, no qual fizeste tantos tecidos e tanta lã para os teus queridos… E os netinhos? Como farás, sem os teus pequenos netos?
– Oh! Mas meu Senhor! Que queres que sejam as paredes, os pombos, as flores, a videira, as colmeias, o tear? Tudo isso são coisas boas, queridas, mas tão pequenas, comparadas a Ti e ao amor a Ti?! Os netinhos… é, sim. Será uma pena não poder fazê-los dormir no colo e ouvir que me estão chamando… mas Tu és mais! Oh! se és mais do que todas as coisas de que falaste! E, se elas, mesmo tomadas todas juntas, e por minha fraqueza, fossem tão queridas como Tu, ou mais do que seguir-te e servir-te, eu, chorando, as lançaria de lado com lágrimas de mulher, para seguir-te com o sorriso da minha alma.