– Mestre, Tu estás mentindo, com estas palavras!
O insulto, odiento e repentino, vem lá do centro da multidão. Todos se viram para o lado de onde veio aquela voz. Cria-se uma grande confusão.
Pedro diz:
– Bem que eu te havia dito! Quando há um deles no meio… nada mais corre bem!
Do meio da multidão saem assobios e murmúrios contra o insultador. Jesus é o único que está calmo. Ele cruzou os braços sobre o peito e está de pé sobre sua pedra, vestido com sua veste azul escura e com o sol batendo-lhe no rosto.
O insultador continua, sem se preocupar com a reação da multidão:
– És um mau mestre, porque ensinas o que não praticas e…
– Cala a boca! Vai-te embora! Cria vergonha! –grita a multidão.
E diz ainda:
– Vai para os teus escribas. Para nós, o Mestre basta. Que os hipócritas fiquem com os hipócritas! Mestres falsos! Agiotas!
E continuariam, mas Jesus diz, com sua voz de trovão:
– Silêncio. Deixai que ele fale –e o povo para de gritar, mas fica cochichando suas ameaças, acompanhadas de olhares ferozes.
– Sim. Tu ensinas o que não fazes. Dizes que se deve dar esmolas sem ser vistos, e ontem, na presença do povo todo, disseste a dois pobres: “Ficai aqui, que matarei vossa fome.”
– Eu disse: “Que fiquem os dois pobrezinhos. Eles serão os hóspedes bem-vindos, e darão sabor ao nosso pão.” Nada mais. Eu não quis dizer que ia matar-lhes a fome. Quem é tão pobre, que não tenha pelo menos um pão? A alegria era oferecer-lhes uma boa amizade.
– Ora! Mais esta. És astuto, e sabes fazer-te um cordeiro!…
O velhinho se ergue, vira-se, e levantando o seu bastão, grita:
– Língua infernal, que acusas o Santo, achas talvez que sabes tudo, e que podes acusar só pelo que sabes. Como não sabes quem é Deus, e quem é este que estás insultando, assim também não sabes o que Ele faz. Somente os Anjos e o meu coração cheio de júbilo o sabem. Ouvi, ó homens, ouvi todos, e ficai sabendo se Jesus é o mentiroso e o soberbo que este lixo do Templo está querendo dizer. Ele…
– Cala a boca, Ismael! Cala-te por amor de Mim. Se Eu te fiz feliz, faze-me feliz, calando-te –pede-lhe Jesus.
– Eu te obedeço, Filho Santo. Mas deixa-me dizer ainda só isto: A benção do velho israelita fiel está sobre Aquele que, da parte de Deus, me beneficiou, e Deus a colocou sobre os meus lábios, por mim e por Sara, minha nova filha. Mas sobre tua cabeça não haverá benção. Eu não te amaldiçoo. Não quero com uma maldição sujar minha boca, que deve dizer a Deus “Acolhe-me.” Eu não fiz uso dela nem mesmo para quem me renegou, e por isso eu já recebi a recompensa divina. Mas teremos quem faça as vezes do Inocente acusado e de Ismael, amigo de Deus que o beneficia.
Um coro de gritos encerra o discurso do velho, que torna a sentar-se. E o homem sai dali, afastando-se rapidamente, indo embora, perseguido pelas ameaças.
Depois a multidão grita para Jesus:
– Continua, continua, Mestre Santo! Nós escutamos somente a Ti, e Tu nos escutas. Não àqueles malditos corvos!! Eles estão com ciúmes. Porque nós te amamos mais que eles! Mas em Ti há Santidade. Neles há maldade. Fala, fala! Estás vendo: não desejamos mais que a tua palavra. Casas, negócios? Nada disso, para que possamos ouvir-te!
Está bem. Eu vou falar. Mas não ligueis para isso. Rezai por aqueles infelizes. Perdoai, como Eu perdôo. Porque, se perdoardes as faltas dos homens, também o vosso Pai do Céu vos perdoará dos vossos pecados. Mas, se guardardes rancor e não perdoardes os homens, também o vosso Pai não vos perdoará. E todos precisam do perdão.