Em uma outra encruzilhada, onde uma estrada secundária atravessa a estrada mestra, lá está, parado naquele ponto, um grupo de carrancudos fariseus, que certamente estão de volta das funções do sábado, das quais eles participam no lugarejo que se vê lá no fundo da estrada secundária, um lugar largo e plano, como se fosse um grande animal escondido em sua toca.
Jesus os vê, olha para eles, manso e sorridente, e os saúda:
– A paz esteja convosco!
Em vez de responder à saudação, um dos fariseus lhe pergunta, com arrogância:
– Quem és?
– Jesus de Nazaré.
– Estais vendo que é Ele? –diz um dos outros.
Nesse meio tempo, Natanael e Simão se aproximaram do Mestre, enquanto os outros, caminhando por entre os sulcos, vêm vindo para o caminho. Estão ainda mastigando e com as conchas das mãos cheias de grãos de trigo.
O fariseu que falou primeiro, talvez o mais poderoso, volta a falar com Jesus, que parou na expectativa de ouvir o resto:
– Ah! Então és o famoso Jesus de Nazaré? Como foi que chegaste até aqui?
– Porque aqui também há almas para salvar.
– Para isso bastamos nós. Nós sabemos salvar as nossas e sabemos salvar as dos que dependem de nós.
– Se é assim, fazeis bem. Mas Eu fui enviado para evangelizar e salvar.
– Enviado! Enviado! E quem é que prova isso? Certamente que não o provam as tuas obras.
– Por que é que dizes isto? Não te importas com a tua Vida?
– Ah! Agora, sim. Tu és aquele que dá a morte àqueles que não te adoram. Queres, então, matar toda a classe sacerdotal, a dos fariseus, a dos escribas e muitas outras, porque elas não te adoram e não te adorarão nunca. Nunca, compreendes? Nunca nós, os eleitos de Israel, haveremos de adorar-te. E também não te amaremos.
– Eu não vos forço a me amar. Eu vos digo: “Adorai a Deus” porque…
– Isto é, a Ti, porque tu és Deus, não é? Mas nós não somos os piolhentos populares galileus, nem os tolos da Judeia, que andam atrás de Ti, esquecendo-se dos nossos rabis…
– Não te preocupes, homem. Eu não peço nada. Eu cumpro a minha missão, ensino a amar a Deus, e torno sempre a repetir o Decálogo, porque ele está por demais esquecido e, pior ainda, está sendo mal aplicado. Eu quero dar a Vida. A Vida Eterna. Eu não desejo para ninguém a morte corporal nem muito menos, a morte espiritual. A Vida que Eu te perguntava se não te importavas em perder, era a da tua alma, porque Eu amo a tua alma, mesmo quando ela não me ama. E fico angustiado, ao ver que tu a matas, quando ofendes o Senhor, desprezando o seu Messias.
O fariseu parece ter sido invadido por uma convulsão, pelo tanto que está agitado: ele descompõe suas vestes, desfia as franjas, tira o turbante, desgrenha os cabelos, e grita:
– Ouvi! ouvi! A mim, a Jônatas de Uziel, descendente direto de Simão, o Justo, a mim é que se vem dizer uma coisa destas! Eu, ofender ao Senhor! Não sei quem me segura, que eu não te amaldiçoe, mas…
– É o medo quem te segura. Mas, faze o que queres. Por isso não é que irás ser reduzido a cinzas. A seu tempo o serás e me invocarás então. Mas, entre Mim e ti, haverá, então, um pequeno rio vermelho: o meu Sangue.
– Está bem.