Zacarias é recebido com grandes honras pelos guardas, saudado e cumprimentado pelos outros sacerdotes. Zacarias está muito bonito hoje, em suas vestes sacerdotais e em sua alegria de pai feliz. Parece um patriarca. Penso que Abraão devia estar assim, quando se alegrou, ao oferecer Isaque ao Senhor.
Vejo a cerimônia da apresentação do novo israelita e a da purificação da mãe. Esta é ainda mais pomposa do que a de Maria, porque para o filho de um sacerdote, os sacerdotes fazem festa. Acorrem todos, e se entregam a uma grande atividade ao redor do grupo das mulheres e do recém-nascido.
Também o povo se aproximou com curiosidade, e estou podendo ouvir os comentários. Visto que Maria está com o menino nos braços, enquanto vão-se dirigindo para o lugar estabelecido, o povo está pensando ser ela a mãe.
Mas uma mulher diz:
– Não pode ser. Não estais vendo que ela está grávida? O menino tem apenas poucos dias de nascido, e ela já está grávida?!
– Contudo –diz um outro–. Ela não pode deixar de ser a mãe. Pois a outra já está velha. A outra, pode ser uma parenta. Mas, naquela idade, mãe é que ela não pode ser.
– Vamos atrás delas, e veremos quem tem razão.
E o espanto se torna geral, quando todos podem ver que quem está cumprindo o rito da purificação é Isabel, pois ela é que está oferecendo o cordeirinho berrador para o holocausto, e o pombo pelo pecado.
– A mãe é aquela? Viste?
– Não!
– Sim.
O povo está cochichando, ainda incrédulo. Mas está cochichando tão alto, que vem um “Psiu” imperioso do grupo sacerdotal, que está presente à cerimônia. As pessoas se calam por um momento, mas recomeçam a cochichar mais forte, quando Isabel, radiante de santo orgulho, pega o menino, e avança pelo Templo a dentro, para fazer a apresentação dele ao Senhor.
– É ela mesmo.
– É sempre a mãe que oferece.
– Mas, que milagre é este?
– Que menino será esse, concedido por Deus àquela mulher, numa idade tão tardia?
– Afinal, que sinal será este?
– Não sabeis? –diz alguém que chega todo ofegante–. É o filho do sacerdote Zacarias, da estirpe de Arão, aquele que ficou mudo, enquanto estava oferecendo o incenso no Santuário.
– Mistério! Mistério! Pois agora ele está falando de novo. O nascimento do filho soltou a língua dele!
– Que espírito lhe terá falado, tornado morta a sua língua, para fazê-lo acostumar-se ao silêncio sobre os segredos de Deus?
– Mistério! Qual verdade conhecerá Zacarias?
– Seria o Messias o filho dele, esperado por Israel?
– Ele nasceu na Judéia. Mas não em Belém, e não de uma virgem. O Messias ele não pode ser.
– Quem, então?
Mas a resposta a tantas perguntas continua a ficar no silêncio de Deus, enquanto o povo permanece na sua curiosidade.
O cerimonial terminou. Os sacerdotes festejam então a mãe e o menino. A única pouco observada, e até evitada com aversão, desde quando perceberam o seu estado, é Maria.