Jesus sorri, diante da lógica humana daquela pequena mente. Mas, com seriedade e bondade, lhe explica:
– Olha, Marziam. Eu vou fazer-te compreender as coisas, por meio de uma comparação. Tu me disseste que gostas de passarinhos, não é verdade? Agora, escuta uma coisa. Os passarinhos foram feitos para voar, ou para ficarem numa gaiola?
– Para voar.
– Está bem. E as mamães dos passarinhos, como fazem para alimentá-los, quando estão pequeninos?
– Põem-lhes a comida no bico.
– Sim. Mas levando-lhes o quê?
– Sementes ou moscas, lagartas ou migalhas de pão ou pedacinhos de frutas, que vão encontrando, ao voarem para cá e para lá.
– Muito bem. Agora escuta: Se tu, nesta primavera, encontrares um ninho caído no chão, com os filhotes dentro e a mãe sobre eles, que farias?
– Eu a apanharia.
– O ninho com tudo? Como ele está? Com a mãe também?
– Tudo. Porque é muito desagradável ficarem os pequenos sem a mamãe.
– Na verdade, no Deuteronômio está dito que se apanhem os pequenos, deixando livre a mãe, que se deve dedicar à geração de outros filhos.
– Mas, se ela é uma boa mamãe, não vai embora. Ela corre para onde estão os seus pequenos. A minha mãe teria feito assim. E nem mesmo a Ti ela teria me dado para sempre, porque eu sou ainda menino. Também ela vir comigo, não teria sido possível, porque os irmãozinhos eram ainda menores do que eu. E, então, ela não me teria deixado sair.
– Está bem. Mas escuta: como disseste, gostarias mais se a mãe daqueles passarinhos e se eles também, tivessem a porta da gaiola aberta para poderem sair, e voltar com a comida apropriada, ou que ela também ficasse presa?
– Ah! eu a quereria livre para sair e voltar, até que os pequeninos crescessem… e eu lhes quereria todo bem se, tendo-os eu depois de terem crescido, eu os deixasse livres, porque o passarinho é feito para voar… E assim… para ser de fato bom mesmo, eu deveria deixar voar também os filhotes já crescidos, e dar-lhes a liberdade… Seria esse o mais verdadeiro amor que eu poderia ter para com eles. E também o mais justo… Sim! O mais justo, porque eu não faria nada mais do que permitir que se cumpra o que Deus quis que os passarinhos tivessem…
– Mas, muito bem, Marziam. Falaste mesmo como um sábio. Serás um grande mestre do teu Senhor e quem te escutar acreditará em ti, porque falarás como um sábio.
– É verdade. Jesus?
E aquele rostinho, antes inquieto e triste, depois confuso em seus pensamentos e preocupado com o esforço para julgar o que era melhor, agora se sente desembaraçado, e está radiante de alegria pelo elogio recebido.
– É verdade.