De fato, poucos minutos depois, ouvem-se batidas na porta e um falatório muito animado anuncia a chegada da família de Simão de Alfeu, que entra por primeiro, trazendo pela mão um menininho com cerca de oito anos. Atrás dele, vem Salomé, no meio de sua ninhada.
Maria de Alfeu sai correndo para fora do quarto, onde está o forno, e beija os netinhos, toda feliz por vê-los ali.
– Então, Tu vais partir de novo? –pergunta Simão, enquanto os seus filhos já estão estreitando amizade com Marziam que, pelo que me parece, conhece bem somente o Alfeu que foi curado.
– Sim. Já é tempo.
– Mas terás ainda uns dias chuvosos.
– Não faz mal. Cada dia vamos nos aproximando mais da primavera.
– Vais a Cafarnaum?
– Com certeza, irei até lá também. Mas não logo. Agora irei para a Galiléia e outros lugares.
– Eu irei encontrar-me contigo, quando souber que estás em Cafarnaum. E Te acompanharei com a tua Mãe e a minha.
– E Eu te serei grato por isso. Por enquanto, não a abandones. Ela fica sempre sozinha. Leva-lhe os teus meninos. Lá eles não aprenderão maus costumes. Fica certo disso.
Simão fica muito corado, por causa da alusão que Jesus está fazendo a seus pensamentos passados e por causa da olhadela muito significativa de sua mulher, que parece estar dizendo-lhe: “Estás ouvindo? Bem que precisavas ouvir isso.”
Mas Simão passa de um assunto para outro, dizendo:
– Onde está a tua Mãe?
– Está fazendo pão. Ela já vem…
Os filhos de Simão, porém, não querem esperar mais, e lá se vão para o lado do forno, atrás da avó. Também, uma meninazinha, um pouco maior do que Alfeu que foi curado, sai de lá quase de repente, dizendo:
– Maria está chorando. Por que, hein, Jesus? Por que tua Mãe está chorando?
– Chorando? Oh! Querida! Eu vou até ela –diz Salomé, toda pressurosa.
E Jesus explica:
– Ela está chorando, porque Eu vou embora… Mas tu virás fazer-lhe companhia, não é verdade? Ela te ensinará a bordar, e tu a alegrarás. Tu me prometes?
– Eu também virei, agora que o pai me deixa vir, diz Alfeu, comendo um pedaço de fogaça que lhe deram.
Mas, por mais quente que o pedaço de fogaça estivesse, a tal ponto que mal o podia segurar entre os dedos, eu creio que ele está até gelado, em comparação com o calor despertado pela vergonha que chegou ao rosto de Simão de Alfeu, ao ouvir aquelas palavras de seu filhinho. E, ainda que se esteja em uma manhã de inverno até bastante fria, e com aquele ventinho do norte, que vai varrendo as nuvens do céu, mas que com seu frio atinge também nossa pele, Simão põe-se a suar, e com uma transpiração tão abundante, como se estivesse em pleno verão.
Jesus não dá nenhum sinal de ter visto aquilo, e os apóstolos simulam um grande interesse pelo que estão cantando os filhos de Simão, e assim é que termina aquele incidente,