Chegam à pequena esplanada, onde está a casa. Um grupo de pessoas está esperando e, logo, que eles veem a Jesus, se prostram. De repente, uma mulher se levanta, e corre para ir jogar-se aos pés de Maria, saudando-a pelo nome.
– Quem és? Eu não me lembro de ti. Levanta-te.
A mulher se levanta e vai falar, quando chegam, ofegantes, os apóstolos.
– Mas, Senhor, Por quê? Nós ficamos correndo como loucos por Jerusalém. Pensávamos que tivesses ido para a casa de Joana ou de Anália… Por que foi que não paraste? –perguntam eles, e dão informações confusas.
– Agora estamos juntos. É inútil explicar o porquê. Deixai que esta mulher fale em paz.
Todos se reúnem para ouvir.
– Tu não te lembras de mim, ó Maria de Belém. Mas eu, desde os trinta e um anos, me lembro do teu rosto, como rosto da piedade. Eu tinha vindo também de longe, por causa do Edito. E eu estava grávida, mas esperava poder voltar em tempo. Meu marido adoeceu na viagem, e, chegando a Belém, foi-se enfraquecendo, até morrer. Fazia vinte dias que eu havia dado à luz, quando ele morreu. Os meus gritos penetraram no céu, secaram-me o leite… e o transformaram em veneno. Eu fiquei coberta de pústulas, e o meu filho também… E fomos jogados em uma caverna, para lá morrermos… Pois bem. Somente tu é que foste, com cuidado, pouco a pouco, durante um mês inteiro, levar-me alimento e cuidar de minhas feridas, chorando junto comigo, e dando leite ao meu filho, que, se agora está vivo, o deve a ti, a ti somente… Tu te arriscaste a ser apedrejada, porque todos me chamavam “a leprosa”… Oh! minha suave estrela! Eu não me esqueci daquilo. E parti de lá, depois que fiquei sã. Fiquei sabendo da carnificina em Éfeso. E te procurei muito! Muito! Eu não podia crer que tivesses sido morta com o teu Filho naquela noite horrorosa. Mas não te encontrei mais. No verão passado uma pessoa de Éfeso ouviu o teu Filho, ficou sabendo quem era, acompanhou-o por certo tempo, e esteve com outros acompanhando-o na festa dos Tabernáculos… E, voltando de lá, me falou. Eu vim para ver-te, Santa, antes de minha morte. Para agradecer-te, tantas vezes quantas foram as gotas de leite que deste ao meu João, levando-o ao teu bendito Filho.
A mulher chora, estando em uma postura respeitosa, um pouco inclinada, com as mãos agarradas aos braços de Maria…
– O leite não se nega nunca, irmã. E…
– Oh! Não. Eu não sou tua irmã! Tu, Mãe do Salvador, e eu uma pobre mulher errante, que está longe de sua casa, viúva, com um filho no seio, um seio árido como uma torrente no verão… Sem ti, eu estaria morta. Tu me deste tudo, e eu, por meio de ti é que pude voltar aos meus irmãos, que são mercadores em Éfeso.
– Éramos duas mães, duas pobres mães, com dois meninos, pelo mundo. Tu tinhas a tua dor de viúva, e eu a de ter que ver-me transpassada em meu Filho, como disse no Templo o velho Simeão. Não fiz mais do que o meu dever de irmã, dando-te o que já não tinhas mais.