Entra um servo, dizendo:
– Manaém chegou. Ele quer ver o Mestre.
– Que ele venha. Certamente tem coisas sérias a dizer.
As mulheres, mais discretas, se retiram, e os discípulos as acompanham. Mas Jesus chama de volta Isaque, o sacerdote João, Estevão e Hermes, Matias e José, que são pastores discípulos.
– É bom que saibais, vós também, que sois discípulos –explica Ele.
Manaém entra e faz uma inclinação.
– A paz esteja contigo –saúda-o Jesus.
– A paz esteja contigo, Mestre. O sol já se está pondo. Que o primeiro passo do sábado seja para Ti, meu Senhor.
– Tiveste uma boa Páscoa?
– Boa! Nada de bom pode haver onde estão Herodes e Herodíades: Acho que terei comido o Cordeiro pela última vez, estando com eles! Ainda que me custe a morte, não ficarei por mais tempo com eles!
– Acho que cometes um erro. Podes servir ao Mestre, ficando…
–objeta Iscariotes.
– Isto é verdade. E é aquilo que me tem até agora segurado. Mas que nojo! Poderia me substituir Cusa…
Bartolomeu lhe faz observar:
– Cusa não é Manaém. Cusa é… Sim. Ele fica em cima do muro. Não denunciaria nunca o patrão. Vocé é mais verdadeiro.
– Isto é verdade. É verdade o que dizes. Cusa é cortesão. Sofre o fascínio da realeza! Que estou dizendo? Da lama real. E até lhe parece ser rei, por estar com o rei… E treme só em pensar em perder os favores reais. Na outra tarde, ele estava como um cão moído por pancadas, quando, quase rastejando, ele apareceu diante de Herodes, que o tinha mandado chamar, depois de ter ouvido os queixumes de Salomé, que foi expulsa por Ti. Cusa estava em um momento bem difícil. O desejo de livrar-se daquilo a qualquer custo, talvez até te acusando, tirando-te a razão, era o que estava escrito em seu rosto. Mas Herodes!… Herodes só queria rir por detrás da mocinha, da qual ele já tem náuseas, assim como tem náuseas da mãe dela. E ele ria como um doido, ao ouvir Cusa repetir as tuas palavras. Ele repetia: “Suaves, suaves demais para esta jovem… (e disse uma palavra tão obscena, que eu não a repito). Ele devia pisar nela, no seu seio frenético… Mas ele ter-se-ia contaminado”, e ria. Depois, ficando sério, disse: “Mas a afronta, merecida pela fêmea, não é permitida pela coroa. Eu sou magnânimo, (é a ideia fixa dele ser isso e, posto que ninguém lhe dá este título, ele o dá a si mesmo) e, perdoo o Rabi, também porque ele disse à Salomé o que é verdade. Mas eu quero que ele venha à Corte, para eu perdoá-lo completamente. Quero vê-lo, quero ouvi-lo e fazê-lo operar milagres. Que ele venha e eu me farei seu protetor.” Assim ele dizia na outra tarde e Cusa não sabia o que dizer. Porque Tu não podes certamente atender aos desejos de Herodes. Hoje ele me disse: “Tu certamente vais a Ele… Dize-lhe a minha vontade.” E eu a digo. Mas… já sei qual vai ser a resposta. Mas, dize-a a mim, a fim de que eu lha possa transmitir.
– Não!
É um “não” que parece um raio.
– Não estarás criando para Ti um inimigo forte demais? –pergunta Tomé.
– E até um carrasco. Mas não posso responder, senão assim: “Não”.
– Ele nos irá perseguir…
– Oh! Dentro de três dias, não se lembrará de mais nada –diz Manaém, sacudindo os ombros.
E acrescenta:
– Prometeram levar-lhe umas dançarinas… Elas devem chegar amanhã… Mas ele se esquecerá de tudo!…