E José, tendo diante de si esses infelizes, põe-se a percorrer as fileiras, a chamar um por um, perguntando quantos são na família, há quanto tempo estão viúvas, ou quanto tempo faz que estão doentes, e assim por diante… e vai tomando nota. E, para cada caso, dá ordem aos seus servos camponeses:
– Dá dez. Dá trinta…
– Dá sessenta –diz ele, depois de ter ouvido um velho meio cego, que chegou até diante dele com dezessete netos, todos abaixo dos doze anos, filhos de dois filhos dele, que morreram, um na colheita do ano passado, e ela de parto…
E diz o velho:
– O esposo contraiu segundas núpcias um ano depois e mandou-me os seus cinco filhos, dizendo que iria pensar neles. Mas nunca concorreu com nenhum dinheiro!… Agora também minha mulher morreu, e eu fiquei sozinho… com estes…
– Dá sessenta ao velho pai. E tu, pai, fica aí, que depois te darei roupas para os pequenos.
O servo o faz notar que, se o velho ganha sessenta feixes cada vez, o trigo não vai dar para todos…
– E onde é que está a tua fé? Será para mim que eu amontoo os feixes, e os reparto? Não. É para os filhos mais queridos do Senhor. O próprio Senhor proverá a fim de que seja suficiente para todos –responde José ao servo.
– Sim, patrão. Mas número é número…
– Mas a fé é fé. E eu, para mostrar-te que a fé pode tudo, ordeno que seja dobrada a medida que já foi dada aos primeiros. Quem recebeu dez, receba mais dez, e quem recebeu vinte, outros vinte e cento e vinte sejam dados ao velho. Faze tu! Fazei vós assim!
Os servos encolhem os ombros, e fazem o que foi mandado.
E a distribuição continua, diante dos olhos espantados e alegres dos beneficiados, que veem como estão recebendo uma medida acima das suas mais loucas esperanças. E José sorri com isso, acariciando os pequeninos, que se esforçam para ajudar as mães, ou as ajuda ele mesmo, e também aos aleijados com seus pequenos fardos, ajuda os velhos decrépitos a levá-los, ou as mulheres muito enfraquecidas, e faz que sejam postos de um lado dois doentes, para dar-lhes outras ajudas, como fez com o velho dos dezessete netos. E todos receberam o que lhes tocava e em uma medida bem farta.
José pergunta:
– Quantos feixes ainda sobraram?
– Cento e doze, patrão –dizem os servos, depois de terem contado os que ficaram.
– Bem vocês irão pegar deles…
José percorre a lista dos nomes que ele marcou, e depois diz:
– Deles apanhareis cinquenta e os guardareis para semente, porque é uma semente santa. E os restantes, vós os dareis um por um a cada chefe de família aqui presente. São exatamente sessenta e dois chefes.
Os servos obedecem. Levam para debaixo de um pórtico os cinquenta feixes, e distribuem o resto. Agora as eiras não têm mais aqueles grandes montões de ouro. Mas no terreno há sessenta e dois montinhos de diferentes medidas, e os seus donos se apressam em amarrá-los e em colocá-los em umas carriolas toscas, ou então sobre os lombos de uns magros burrinhos, que eles foram soltar de uma barreira que estava atrás da casa.