Tomé está falando com sua voz de barítono. Um toldo se levanta e uns olhos olham de soslaio… Depois se ouve um grito:
– O Mestre!
E os servos se põem a correr para fora, acompanhados pelas espantadas patroas, que certamente não estavam esperando Jesus aquela hora, ainda quente como um fogo.
– Raboni!
– Meu Senhor!
Marta e Maria o saúdam de longe, já inclinadas, prontas para a prostração, que fazem, logo que se abre a cancela, quando Jesus não está mais separado delas.
– Marta, Maria: a paz esteja convosco e com a vossa casa.
– A paz esteja contigo, Mestre e Senhor… Mas, numa hora destas?
–perguntam as irmãs, tendo despachado os servos, para que Jesus possa falar livremente.
– Para repousar o corpo e o espírito onde não me odeiem… –diz Jesus com tristeza, estendendo as mãos, como para dizer: “Vós me quereis.” Se esforça para sorrir, mas com um sorriso muito triste e desmentido pelo olhar de uns olhos cheios de dor.
– Fizeram-te algum mal? –pergunta Maria se inflamando.
– O que te aconteceu? –pergunta Marta.
E, com um ar maternal, acrescenta:
– Vem, que eu te darei um alívio. Desde que hora é que vens caminhando, para estares assim tão cansado?
– Desde o romper da aurora… e posso dizer que sem parar, porque a breve parada na casa de Elquias, o sinedrita, foi pior do que um longo caminho…
– Ali te angustiaram?…
– Sim… e antes no Templo…
– Por que foste à casa daquela serpente? –interroga Maria.
– Porque, se lá Eu não fosse, isso teria servido para justificar o ódio dele, que me teria acusado de desprezar os membros do Sinédrio. Mas agora, que Eu vá ou não vá, a medida do ódio dos fariseus está cheia… e não me darão mais trégua…
– Já chegamos a esse ponto? Fica conosco, Mestre. Aqui não te farão mal…
– Eu faltaria à minha missão… Muitas almas estão esperando o seu Salvador. Eu devo ir…
– Mas eles te impedirão de ir a elas!
– Não. Eles me perseguirão, fazendo que Eu ande, para poderem estudar todos os meus passos, cada palavra minha, vigiando-me, como os sabujos que farejam sua presa, para terem um pretexto que possa parecer uma culpa… e tudo servirá…
Marta, sempre tão cautelosa, está tão cheia de dó, que levanta a mão, como para fazer uma carícia sobre aquela face emagrecida, mas ela se contém, enrubescendo, e diz:
– Perdoa-me! Tu me deste tanta pena como a que me dá o nosso Lázaro. Por ter-te amado como a um irmão que sofre, perdoa-me, Senhor!
– Eu sou o irmão sofredor… Amai-me com puro amor de irmãs…