Maria o observa. Depois diz:
– E então? Por que me quiseste ver? Enquanto eu estava assistindo a pobre Ester, eu estava rezando por tua mãe e por ti. Porque me causais dó, tanto um como a outra, por dois motivos diferentes.
– Então, se tens dó de mim, perdoa-me.
– Eu nunca guardei rancor.
– Como? Nem mesmo… naquela manhã em Tiberíades? Sabes de uma coisa? Eu estava daquele jeito porque na tarde anterior as romanas me haviam maltratado como a um louco, como… um traidor do Mestre. Sim. Eu o confesso. Eu fiz mal em falar a Cláudia. Enganei-me com os cálculos dela. Mas eu o faço com boa intenção. Eu entristeci ao Mestre. Ele não me disse isto, mas eu sei que Ele sabe que eu falei. Certamente foi Joana que o avisou. Joana nunca me pode ver, las romanas me entristeceram… E, para esquecer, eu bebi…
Maria tem uma expressão de compaixão, involuntariamente irônica, e diz:
– Então, Jesus por todas as tristezas que cada dia experimenta, já deveria estar bêbado todas as noites…
– E tu lhe disseste isso?
– Eu não aumento o amargor do cálice para meu Filho, com notícias de novas defecções, quedas, pecados, insídias… Fiquei calada e ficarei.
Judas cai de joelhos, tentando beijar a mão de Maria, mas Ela se retira, sem faltar com a delicadeza, mas bem decidida a não deixar-se beijar nem tocar.
– Obrigado, Mãe! Tu me salvas. Eu tinha vindo aqui para isso… e para que tu me tornasses fácil o caminho para aproximar-me do Mestre, sem censuras e sem ficar envergonhado.
– Teria bastado que tivesses ido a Cafarnaum, a fim de vires depois para cá com os outros e para evitar o que houve. Era muito simples.
– É verdade. Mas os outros não são bons, fizeram que eu fosse espionado para depois me reprovarem e me acusarem.
– Não fiques ofendendo aos teus irmãos, ó Judas. Basta de pecar! Tu é que andaste espionando aqui em Nazaré, a Pátria do Cristo, tu…
Judas a interrompe:
– Quando? No ano passado? Eles alteraram as minhas palavras. Mas podes crer que eu…
– Eu não sei o que foi que disseste ou fizeste no ano passado. Eu falo do dia de ontem. Tu estás aqui desde ontem. Tu sabes que Jesus partiu. E certamente para isso fizeste indagações. E não as fizeste nas casas amigas de Aser, de Ismael, de Alfeu e do irmão de Judas e de Tiago, e também não de Maria de Alfeu, nem dos poucos que amam a Jesus. Porque, se tivesses feito assim, me teriam vindo dizer. A casa de Ester se encheu de mulheres, de manhã cedo, quando ela morreu. Mas nenhuma delas sabia de ti. Eram as melhores entre as mulheres de Nazaré, as que me amam, que amam a Jesus, e se esforçam por praticar sua Doutrina, apesar da hostilidade dos maridos, dos pais e dos filhos. Por isso, foste fazer tuas indagações junto àqueles que são inimigos do meu Jesus. Que nome dás tu a isto? Eu não o digo. Tu o deves dizer a ti mesmo. Por que foi que o fizeste? Eunão o quero saber.