Chegaram à casa e Jesus entra nela com a mulher, com Pedro, Bartolomeu e Zelotes.
O homem, estendido na caminha, com o rosto coberto por bandagens e retalhos ou pano molhado, está inquieto e delirando. Mas a voz e a vontade de Jesus o fazem voltar a si, e ele grita:
– Perdão! Perdão! Eu não tornarei a cair no pecado. Quero o teu perdão, como da outra vez. Arria! Arria! Eu te juro. Serei bom. Não usarei mais de violência, nem de fraude, não…
O homem está pronto a prometer tudo pelo medo de morrer…
– Por que queres tudo isso? –pergunta Jesus–. Para expiar ou porque temes o julgamento de Deus?
– Isto, isto. Morrer agora, não! O inferno! Eu roubei, roubei o dinheiro dos pobres. Usei de mentira. Bati no próximo e fiz sofrer os familiares. Oh!
– O medo não é bom. O que se quer é o arrependimento verdadeiro, firme.
– Ou a morte, ou a cegueira! Oh! Que castigo! Não enxergar mais! Viver na escuridão! Nas trevas! Não!
– Se feias já são as trevas dos olhos, não te horroriza a do coração? E não temes a do Inferno, eterna e horrível? Estar continuamente privado de Deus? E com os remorsos também contínuos? O espasmo por teres matado a ti mesmo para sempre, em teu espírito? Não tens amor a esta mulher? E aos filhos, não os amas? E ao teu pai, à tua mãe, aos irmãos, não os amas? Pois bem. Não pensas que não os terás mais contigo, se morreres condenado?
– Não! Não! Perdão! Perdão. Expiar aqui, sim, aqui… Até com a cegueira, Senhor… Mas o inferno, não… Que Deus não me amaldiçoe. Senhor! Senhor! Tu expulsas os demônios e perdoas as culpas. Não levantes a mão para curar-me, mas para perdoar-me e livrar-me do demônio que me está segurando. Põe-me uma mão sobre o coração, sobre a cabeça… Livra-me, Senhor…
– Eu não posso fazer dois milagres. Pensa bem. Se Eu te livrar do demônio, deixar-te-ei na doença…
– Não importa! Que sejas o Salvador.
– Seja como tu queres. Procura aproveitar desta minha graça, que é a última que Eu te faço. Adeus.
– Tu não tocaste em mim! A tua mão! A tua mão!
Jesus o contenta, põe a mão sobre a cabeça e sobre o peito do homem que, enfaixado como está, e cegado pelas vendas e pela ferida, procura apalpar, convulsamente, agarrar a mão de Jesus. E, tendo-a encontrado, chora sobre ela, sem querer deixar que ela saia, até que, como um menino cansado, ele adormece, segurando ainda a mão de Jesus, que ele ainda aperta contra sua própria face febril.
Jesus vai soltando cuidadosamente a mão, sai daquele quarto sem fazer barulho, acompanhado pela mulher e peloos três apóstolos.
– Deus te recompense, Senhor! Ora pela tua serva.
– Continua a crescer na justiça, mulher, e Deus estará sempre contigo.
Levanta a mão para bendizer a casa e a mulher, e desce para a estrada.