– Morará gente na torre? –pergunta João, cheio de sono.
– Eu acho que não. Dela não se vê sair nem luz, nem voz nenhuma. Queres pedir abrigo? Já não podes mais fazê-lo…
– Oh! Não. Eu disse por dizer… Mas aqui se está bem…
– Espicha-te, pelo menos, João. A erva é macia, por aqui ainda não deve ter chovido. O chão está enxuto.
– … Não… Não… Senhor. Não estou com sono… Vamos conversar. Dize-me alguma coisa… uma parábola… Eu vou sentar-me aqui aos teus pés. Basta-me colocar minha cabeça sobre os teus joelhos…
E ele se assenta, apoiando a cabeça sobre os joelhos de Jesus.
Faz esforços heroicos para não dormir. Procura falar para vencer o sono… Procura interessar-se por aquilo que vê… as estrelas no céu, as luzes na estrada. São sempre mais numerosas as primeiras, porque o vento soprou durante a noite, levando embora as nuvens. As segundas vão ficando sempre mais raras, porque de noite os peregrinos pararam de caminhar. Somente um ou outro teimoso persiste em andar com seu carro equipado com uma lanterna, que fica balançando, pendurada no teto de esteira ou de cobertas estendidas sobre os arcos do carro. Mas o próprio silêncio, cada vez mais completo, faz que eles comecem a dormir.
João, com uma voz já bem mais fraca, diz:
– Quantas luzes no céu! E ficar olhando, parece que alguma delas tenha descido à terra, treme e pisca como lá em cima… Mas agora são menores e mais feias… Nós não podemos fazer estrelas… Em nossas estrelas há fumaça, há cheiro de mecha de candeeiro… e qualquer coisa as pode apagar… Assim disseste, Tu, uma vez que para apagar a luz em nós, basta uma mariposa, e Tu comparavas as mariposas às seduções do mundo… Depois dizias que… enquanto as mariposas podem apagar uma luz, as asas dos anjos — e davas o nome de anjos às coisas espirituais — podem tornar mais viva a luz que há em nós… Eu… o anjo… a luz…
E João vai caindo pouco a pouco no sono e, finalmente, sem querer entrar no sono, se estende, obrigado pelo cansaço.
Jesus espera que ele fique completamente adormecido e depois lhe enfia por debaixo da cabeça um saco, põe-lhe por cima o manto, com cuidados maternais. Num último momento de lucidez, João ainda murmura:
– Eu não estou dormindo, sabes, Mestre? É que assim, estou vendo mais estrelas e te vejo melhor…
E passa a ver melhor a Jesus e o céu estrelado, vendo-os em sonho num sono profundo.
Jesus torna a sentar-se em sua cadeira verde. Apóia o cotovelo direito sobre o joelho, apóia-a face sobre a palma da mão, fica pensando e rezando. Ao olhar para a estrada, que já está vazia, enquanto a seus pés o Predileto com o braço dobrado por baixo da cabeça, dorme com a placidez de uma criança.