Mas logo outro sangue vem lavar aquela porta sepulcral, formando um outro pranto. Maria, até agora sustentada por João e bastante silenciosa em seu soluçar, se solta do apóstolo e, com um grito que eu acho ter feito tremer até as fibras das plantas, joga-se contra a porta, agarra-se às saliências dela para afastá-la, esfola os dedos e estraga as unhas sem conseguir o que quer, e põe-se a usar até da cabeça como alavanca, pressionando-a contra essa saliência áspera. E o gemido dela se parece com o rugido de uma leoa, que se machuca contra a entrada de uma armadilha, onde estão fechados os seus filhotes, cheia de piedade e de ferocidade em seu amor de mãe.
Ela não tem mais nada daquela mansa virgem de Nazaré, daquela paciente mulher até agora desconhecida. Agora ela é a Mãe. Só e simplesmente a Mãe, munida com todas as suas fibras e nervos da carne e do amor por seu Filho. Ela é a mais verdadeira “dona” daquela carne que Ela gerou, a única dona depois de Deus, e não quer que lhe seja roubada essa sua propriedade. Ela é a “rainha” que defende a sua coroa: o filho, o filho, o filho.
Toda rebelião e rebeliões que durante trinta e três anos qualquer outra mulher teria tido contra a injustiça do mundo para com o seu filho, todas as atrocidades santas e lícitas que qualquer outra mãe teria cometido durante aquelas últimas horas para ferir e matar, com as mãos e com os dentes, os assassinos de seu filho, todas aquelas coisas que ela, por amor do gênero humano, sempre dominou, agora se agitam em seu coração, fervem em seu sangue. Mas, mansa até mesmo em sua dor que a enlouquece, Ela não diz imprecações, Ela não se arroja. Mas ela só pede à pedra que se abra, que a deixe passar, porque o seu lugar é lá dentro, onde Ele está. Mas isto Ela está pedindo a homens, impiedosos em sua piedade, que lhe obedeçam e que abram.
Depois de ter batido e sangrado com os lábios e as mãos sobre a pedra pertinaz, Ela se vira, apoia-se com os braços abertos, abarcando também as extremidades da pedra, e terrível em sua majestade de Mãe das Dores, Ela ordena:
– Abri! Não o quereis fazer? Pois bem: eu fico aqui. Dentro não? Então, aqui fora. Aqui está o meu pão e o meu leito. Aqui é a minha morada. Não tenho outras casas nem outro objetivo. E vós, podeis ir embora. Voltai para o mundo, do qual eu sinto asco. Eu fico onde não há avidez e cheiro de sangue.
– Não podes, Mulher!
– Não podes, Mãe!
– Não podes, Maria querida!
E procuraram tirar suas mãos da pedra, temerosos diante daqueles olhos que eles ainda não tinham, visto com aquele brilho que os faz ficar duros, imperiosos, vítreos e fosforescentes.