O único que fica um pouco mais atrás, embaraçado, é Tomé. Ele ajoelhou-se perto da mesa. Não ousa ir para a frente e parece até que queira se esconder atrás do canto da mesa.
Jesus, estendendo suas mãos para que as beijem — pois os apóstolos as buscam com ansiedade santa e amorosa — corre o olhar por cima das cabeças inclinadas como se estivesse procurando o undécimo. Mas Ele já o viu desde o primeiro momento, e só faz assim para dar tempo a Tomé para criar coragem e aparecer. E vendo que o incrédulo está com vergonha por sua falta de fé e que ainda não tem coragem, chama-o:
– Tomé, vem cá.
Tomé levanta a cabeça, confuso, quase chorando, mas não ousa vir. Abaixa a cabeça novamente.
Jesus faz alguns passos em sua direção e diz outra vez:
– Tomé, vem cá.
A voz de Jesus está mais imperiosa do que na primeira vez.
Tomé se levanta, relutante e confuso, e vai até Jesus.
– Eis aqui aquele que não crê se não vê! –exclama Jesus. Mas sua voz vem com um sorriso de perdão.
Tomé o ouve, cria coragem de olhar para Jesus ao ver que Ele está sorrindo mesmo, e decide ir mais depressa.
– Vem cá, bem perto de mim. Olha. Vem pôr o teu dedo aqui, se é que não te basta olhar, põe-no nas feridas de teu Mestre.
Jesus estendeu as Mãos e depois abriu suas vestes no peito, descobrindo a ferida do Lado. Agora a luz não emana mais das Feridas. Não emana mais desde que Ele, tendo saído daquele halo de luz lunar, pôs-se a caminhar como um homem mortal, e as feridas aparecem em sua sangrenta realidade: são dois furos irregulares, dos quais o esquerdo vai até o polegar, atravessam o pulso e a palma em sua base; e se vê um corte longo que, em sua parte superior, parece ter a forma de um acento circunflexo. É a ferida do Lado.
Tomé treme, olha, mas não toca. Move os lábios, mas não consegue falar claramente.
– Dá-me tua mão, Tomé –diz Jesus com muita doçura.
E pega, com sua mão direita a mão direita do apóstolo, segura o indicador dela e o leva até o furo de sua Mão esquerda, enfiando-o bem dentro dele, a fim de fazê-lo compreender que a palma da mão foi atravessada. Depois leva a mão dele ao Lado, ou melhor, pega os quatro dedos pela base, no metacarpo, e leva-os até o rasgão do Peito, enfiando-os também na ferida. Não se limita a apoiá-los na beirada, mas os segura lá dentro, olhando fixamente para Tomé.
Com um olhar severo, mas benigno, Jesus vai dizendo:
– Coloca aqui o teu dedo, põe os teus dedos e a mão no meu Lado, se quiseres, e não sejas mais incrédulo, mas fiel.
Isso Ele ia dizendo, à medida que ia fazendo o que eu disse antes.
Tomé — parece que a proximidade do Coração divino, que ele quase toca, tenha-lhe dado coragem — consegue finalmente falar e pronunciar as palavras. Caindo de joelhos, com os braços levantados, num acesso de choro de arrependimento, diz:
– Meu Senhor e meu Deus!
E não consegue dizer mais nada.
Jesus o perdoa. Põe-lhe a mão direita sobre a cabeça e responde:
– Tomé, Tomé! Agora crês porque viste… Mas felizes aqueles que crerão em Mim sem terem visto! Que prêmio Eu deverei dar a eles, se devo premiar a vós, cuja fé teve que ser socorrida pela força de ver?…