Os dois noivos ficam um em frente ao outro. Maria, com o rosto vermelho, está de cabeça inclinada. José também ruborizado, a observa, procurando as primeiras palavras para dizer.
Finalmente um sorriso ilumina-lhe o rosto. Ele diz:
– Eu te saúdo, Maria. Eu te vi menina de poucos dias… Era amigo de teu pai, e tenho um sobrinho, filho do meu irmão Alfeu, que era muito amigo de tua mãe. Seu pequeno amigo, que hoje não tem mais do que dezoito anos, quando ainda não tinhas ainda nascido era como um homenzinho e alegrava as horas tristes de tua mãe, que o amava muito. Tu não o conheces, porque vieste para aqui ainda pequena. Mas em Nazaré todos te querem bem, pensam na pequena Maria e falam nela, na pequena Maria do Joaquim, cujo nascimento foi um milagre do Senhor, que fez com que uma estéril florescesse… Eu me lembro daquela tarde em que nasceste… Todos nos lembramos dela pelo prodígio acontecido de uma grande chuva que veio salvar os campos, e de um violento temporal no qual os raios não destroçaram nem mesmo um caule de érica selvagem, e que terminou com um arco-íris tão surpreendente, que ninguém jamais viu outro maior, nem mais bonito. E depois… quem não se lembra da alegria do Joaquim? Ele te levava por toda parte, mostrando-te aos vizinhos… Como se fosses uma flor vinda do Céu, ele te admirava, e queria que todos te admirassem. O velho pai era feliz e morreu falando de sua Maria, tão bela, tão boa, e de suas palavras tão cheias de graça e sabedoria… Ele tinha razão de te admirar e de dizer que não existe outra mais bela do que tu! E tua mãe? Ela enchia com o seu canto o lugar onde era a tua casa, e parecia uma cotovia na primavera, quando te levava em suas entranhas e, mais tarde, quando te amamentava. Fui eu que fiz o teu berço. Um bercinho todo entalhado com rosas, porque assim o quis tua mãe. Talvez ele ainda esteja na casa que está fechada… Eu estou velho, Maria. Quando nasceste, eu estava fazendo os meus primeiros trabalhos. Já fazia alguma coisa… Quem me teria dito que eu haveria de ter-te como esposa? Talvez os teus tivessem morrido mais alegres, pois eles eram meus amigos. Eu sepultei o teu pai, chorando, com um coração sincero, porque ele foi para mim um bom mestre na vida.
Maria vai erguendo devagarinho seu rosto, reanimando-se sempre mais, ouvindo que José lhe fala assim e, quando ele se refere ao berço, ela sorri levemente, e quando José lhe fala do pai, ela lhe estende uma mão e diz:
– Obrigada, José.
Um agradecimento tímido e suave.
José toma a mãozinha de jasmim, entre as suas mãos curtas e fortes de carpinteiro e a acaricia com um afeto que quer encorajar sempre mais. Talvez espere por outras palavras. Mas Maria se cala de novo. Então, é ele que retoma a palavra:
– A casa, como sabes, está intocada, menos naquela parte que foi demolida por ordem do Cônsul, transfomando um atalho numa estrada, para as carruagens de Roma. Mas o campo está um pouco descuidado, aquela parte que ficou para ti, porque, tu sabes, a doença do pai fez que se gastasse muito do que era teu. Já são mais de três primaveras que as árvores e as videiras não vêem a tesoura do hortelão. A terra está inculta e dura. Mas as árvores, que te viram pequenina, estão lá ainda e, se tu me permites, eu vou cuidar logo delas.
– Obrigada José. Mas tu já estás trabalhando…
– Trabalharei no teu pomar nas primeiras e nas últimas horas do dia. Agora os dias estão alongando-se cada vez mais. Na primavera, quero que tudo esteja em ordem, para tua alegria. Olha, este é um ramo da amendoeira que está à frente da casa. Eu quis apanhar este… Há entradas por toda parte na sebe arruinada, mas agora eu a consertarei e a farei ficar mais forte e sólida. Eu quis apanhar este ramo, pensando que se fosse o escolhido… (não o esperava, porque sou nazireu e só obedeci por ser ordem do Sacerdote, não por desejar as núpcias) Como eu ia dizendo, pensei que terias tido prazer em ter uma flor do teu jardim. Ei-la aqui, Maria. Com ela te dou o meu coração que, como esta flor, floresceu até agora para o Senhor, florescendo agora para ti, minha esposa.