Mas enquanto, refazendo o caminho já feito, alcançam os dez, que tinham parado à distância compreendendo que André está em uma conversa secreta com o Mestre, chega correndo Iscariotes. Parece uma grande borboleta volitando sobre os prados, de tão velozmente que corre, com o manto esvoaçando atrás e fazendo com os braços os mais incríveis sinais.
– Mas, que é que ele tem? –pergunta Pedro–. Terá ficado louco?
Antes que alguém possa responder-lhe, Iscariotes, tendo chegado mais perto, pode gritar com a respiração entrecortada:
– Para, Mestre. Escuta-me, antes de ires à casa… Há uma emboscada. Oh! Que covardes!! –e corre.
Ei-lo junto a Jesus:
– Ó Mestre! Não se pode mais ir para lá! Os fariseus estão no povoado, e todos os dias vão à casa. Eles estão te esperando para te prejudicarem. Estão mandando embora os que vêm procurar-te. Com maldições horrendas os amedrontam. Que queres fazer? Aqui serias perseguido e a tua obra reduzida a nada… Um deles me viu e me agrediu. É um velho feio e narigudo, que me conhece, porque é um dos escribas do Templo. Porque há também uns escribas. Ele me agrediu, agarrando-me com suas mãos e unhas e insultando-me com sua voz de falcão. Enquanto insultou a mim e me arranhou, olha… (e mostra um pulso e uma das faces marcados com claros sinais de unhadas) eu o deixei fazer. Mas quando ele quis babar sobre Ti, eu o peguei pelo pescoço…
– Mas Judas! –grita Jesus.
– Não, Mestre. Eu não o estrangulei. Somente o impedi de blasfemar contra Ti e depois o deixei ir-se embora. Agora, ele está lá morrendo de medo pelo perigo por que passou… Mas nós vamos embora, é o que te peço. Mesmo porque ninguém mais poderia vir a Ti…
– Mestre!
– Mas é um horror!
– Judas tem razão.
– Eles estão de emboscada, como hienas!
– Fogo do céu que desceste sobre Sodoma, por que não voltas?
– Mas sabes que foste um bravo, rapaz? É pena que eu também não estava lá; eu te teria ajudado.
– Oh! Pedro! Se estivesses lá, tu também, aquele falcãozinho teria perdido as penas e a voz para sempre.
– Mas como fizeste para… para não chegar até o fim?
– Ah!! Foi uma luz que brilhou em minha mente, o pensamento que me veio, talvez do fundo do coração: “O Mestre condena a violência”, e então eu parei, sentindo com isso um choque ainda mais profundo do que aquele que tinha recebido da parede contra a qual me havia jogado o escriba, quando me agrediu. Fiquei com os nervos moídos… tanto que depois não mais teria tido força para enfurecer. Como cansa vencer a si mesmo!!
– És mesmo um bravo! Não é verdade, Mestre? Não dizes o que achas?
Pedro está tão feliz com o ato de Judas, que nem vê como Jesus mudou daquele rosto iluminado de antes, para um rosto severo, que lhe escurece o olhar e fecha-lhe a boca, que parece se torne mais fina.
Ele a abre para dizer:
– Eu digo que estou mais desgostoso com o vosso modo de pensar, do que com a conduta dos judeus. Eles são uns infelizes, no escuro. Vós, que estais com a Luz, sois duros, vingativos, murmuradores, violentos, aprovadores do ato brutal, como eles. Digo-vos que me estais dando a prova de serdes sempre aqueles que éreis, quando me vistes pela primeira vez. E fico sentido com isso. Quanto aos fariseus, ficai sabendo que Jesus Cristo não foge. Vós, retirai-vos. Eu os enfrento. Não sou um covarde. Quando tiver falado com eles e não os tiver convencido, me retirarei. Não se há de dizer que Eu não procurei, por todos os meios, atraí-los a Mim. Eles também são filhos de Abraão. Eu faço o meu dever até o fim. A condenação deles há de ser causada unicamente por sua má vontade e não por algum descuido de minha parte para com eles.
E Jesus vai em direção à casa, que mostra o seu telhado baixo, para lá de uma fileira de árvores despidas. Os apóstolos o seguem de cabeça baixa, falando baixo entre si.