– Que é o teu Filho para ti, mulher? –pergunta em voz baixa Maria de Judas.
E Maria, mãe de Jesus, segura responde:
– É a minha alegria.
– A tua alegria!… –e depois vem uma explosão de pranto, enquanto a mãe de Judas se inclina sobre si mesma, como para esconder o pranto. Sua fronte se abaixa quase até os joelhos, de tanto que ela se inclinou.
– Por que estás chorando, minha pobre amiga? Por quê? Dize-o a mim. Eu sou feliz em minha maternidade, mas sei também compreender as mães não felizes…
– Sim. Não felizes! E eu sou uma delas. Teu Filho é a tua alegria…O meu é a minha dor: tem sido, ao menos. Agora, desde quando está com o teu Filho, ele me aflige menos. Oh! Entre todas as que rezam pelo teu santo Filho, para que Ele se saia bem e triunfe, não existe nenhuma, depois de ti, ó bem-aventurada, que reze tanto como esta infeliz, que te está falando… Dize-me a verdade: que pensas tu do meu filho? Nós somos duas mães, uma na frente da outra: entre nós está Deus. E estamos falando de nossos filhos. Tu não podes deixar de achar fácil falar do teu. Eu…eu devo fazer força contra mim mesma para falar do meu. Mas, na verdade, quanto bem, ou quanta dor me pode provir de estar falando dele. Pois, ainda que seja doloroso, sempre será um consolo ter falado.
Aquela mulher de Betsur ficou quase doida, por causa da morte de seus filhos, não foi? Mas eu te juro que, às vezes, pensei e penso, quando olho para o meu Judas belo, sadio, inteligente, mas não bom, não virtuoso, não direito de espírito, não sadio em seus sentimentos, que eu preferiria chorá-lo morto, a sabê-lo… a sabê-lo muito desagradável a Deus. Tu, então, dize-me: Que pensas do meu filho? Sê sincera. Há mais de um ano que esta pergunta me vem queimando o coração. Mas, fazer eu esta pergunta a quem? Aos moradores da cidade? Eles não sabiam ainda que o Messias estava na terra e que Judas queria andar na companhia dele. Eu sabia disso. Ele o havia dito, quando veio aqui depois da Páscoa, exaltado, violento como sempre, quando se apodera dele algum capricho e, como sempre, desprezando os conselhos de sua mãe. Perguntar aos amigos dele de Jerusalém? Uma santa prudência e uma piedosa esperança me detinham de fazer isso. Eu não queria dizer a eles, aos quais não posso amar, porque tudo eles são, menos santos, o seguinte: “Judas está acompanhando o Messias.” E eu esperava que aquele capricho acabasse, como muitos outros, como todos os outros, custando talvez lágrimas e desolações como por mais de uma mocinha que, aqui e em outros lugares ele namorou, pensando em si só e depois jamais tomou por esposa.
Não sabes que há lugares aonde ele não vai mais, porque poderia encontrar lá um justo castigo? Também ser ele do Templo foi um capricho dele. Ele não sabe o que quer. Nunca. O pai dele, Deus lhe perdoe, o estragou. Eu nunca tive voz, diante dos dois homens da minha casa. Eu só tive que chorar, e viver com humilhações de toda sorte… Quando Joana morreu — e, ainda que ninguém o dissesse, eu sei que ela morreu de dor, quando, depois de ter esperado durante toda a sua juventude, Judas declarou que ele não queria mulher, ao passo que depois ficou sabido que ele tinha mandado amigos a Jerusalém para perguntarem a uma mulher rica, e que possuía empórios até Chipre para sua filha — eu tive que chorar muito, muito, por causa das censuras da mãe da mocinha morta, como se eu fosse cúmplice do meu filho. Não. Eu não sou. Mas eu nem sou nada para ele.
No ano passado, quando o Mestre esteve aqui, compreendi que Ele havia entendido… e quis falar com ele. Mas é doloroso e ainda mais para uma mãe, é doloroso ter que dizer: “Temei o meu filho: é um avarento, um duro de coração, um viciado, um soberbo, um inconstante.” E ele é isto. Eu… eu rezo para que teu Filho faça um milagre, Ele que faz tantos, faça um milagre sobre meu Judas… Mas tu, dize-me tu: que é que pensas dele?