Passam as horas e, quem não está roncando, está cabeceando. Jesus reza. O silêncio é total. Parece que está calada até a fonte, que brilha ao luar, estando a Lua já alta no céu, iluminando muito bem o descampado, enquanto os declives ficam na sombra da ramagem espessa.
Um cão dos pastores começa a rosnar. Um dos guardas do rebanho levanta a cabeça. O cão se põe de pé e levanta o pelo sobre o dorso, colocando-se em posição de defesa e de escuta. Ele está até tremendo, enquanto seu rosnar surdo, que está fervendo dentro dele, vai-se tornando sempre mais forte. Simão também levanta a cabeça e sacode Pedro, que está cochilando. Um sussurro cauteloso vem vindo do lado do bosque.
– Vamos ao Mestre. Vamos trazê-lo para a nossa companhia –dizem os dois.
Nesse ínterim, o guarda desperta os companheiros. Todos estão à escuta, e sem fazer barulho. Jesus também se levantou, antes mesmo de ser chamado, e vai de encontro aos dois apóstolos. Reúnem-se eles com os companheiros e, por isto, perto dos pastores, cujo cão dá sinais cada vez mais claros de agitação.
– Chamai os que estão dormindo. Todos. Dizei-lhes que venham, sem fazerem barulho, e especialmente as mulheres e os servos com os cofres. Dizei-lhes que talvez sejam os malandros. Mas, não o digais às mulheres. Dizei-o a todos os homens.
Os apóstolos se espalham, obedecendo ao Mestre, que diz aos pastores:
– Alimentai o fogo, que ele fique bem forte e faça uma chama bem viva.
Os pastores obedecem e, como parecem estar agitados, Jesus lhes diz:
– Não temais. Não vos será tirado nem um floco de lã.
Sobrevêm os mercadores, e sussurram:
– Lá se foram os nossos ganhos! –e acrescentam um rol de impropérios contra os governadores romanos e judeus que não limpam o mundo dos ladrões.
– Não temais. Não perdereis nem um centavo –conforta-os Jesus.
Chegam as mulheres chorando, espavoridas, porque o corajoso padrinho, por entre os tremores de um medo fenomenal, as aterroriza, dizendo:
– É a morte. A morte pela mão dos salteadores!
– Não temais. Não sereis atingidas nem mesmo com um olhar
–encoraja-as Jesus, levando as mulheres para o centro do pequeno conjunto de homens e animais espantados.
Os asnos zurram, o cão uiva, as ovelhas balem, as mulheres soluçam, os homens dizem imprecações ou desmaiam pior do que as mulheres, em uma cacofonia causada pelo espanto. Jesus está calmo, como se nada houvesse acontecido. O sussurro no bosque nem se pode mais ouvir, no meio desta vozeria. Mas, que no bosque estão os malfeitores, que vêm se aproximando, é o que estão denunciando os galhos, que vão sendo quebrados e as pedras que descem rolando.
– Silêncio! –manda Jesus. E o manda de um modo tal, que logo se faz silêncio.