Descem para a terra, para onde já desceram os da outra barca. Eles entram na cidade.
A curiosidade simples ou… sem simplicidade, dos magdalenses deve ser como uma tortura para Madalena. Mas ela tudo suporta heroicamente, acompanhando o Mestre, que vai na frente, no meio de todos os seus apóstolos, enquanto que as três mulheres vão atrás deles. O murmúrio é forte. Não falta a ironia. Todos aqueles que, enquanto Maria era a senhora que mandava em Magdala, a respeitavam pela aparência, por temor das represálias, agora que eles a estão vendo e sabem que ela se afastou para sempre dos seus poderosos amigos, agora humilde e casta, eles tomam a liberdade de demonstrar-lhe o seu desprezo e de dirigir-lhe apelidos nada agradáveis.
Marta, que está sofrendo tanto quanto ela por isso, pergunta-lhe:
– Queres ir embora para casa?
– Não. Eu não deixo o Mestre. E a Ele, antes que a casa seja purificada de todos os vestígios do passado, não o convidarei para entrar nela.
– Mas, tu sofres, irmã.
– Eu fiz por merecê-lo.
É preciso aceitar o sofrimento: o suor que desce do rosto, e o rubor que o cobre até no pescoço não são devidos somente ao calor.
Atravessam toda Magdala, indo pelos quarteirões pobres, até chegarem à casa em que ficaram na outra vez. A mulher fica espantada, quando, ao levantar a cabeça do lavadouro para ver quem é que a está saudando, se encontra de frente com Jesus e a bem conhecida senhora de Magdala, não mais naquela sua pompa, não mais cheia de joias, mas com um véu leve de linho na cabeça, vestida de um roxo pervinca, com uma veste fechada à altura do pescoço, estreita e que se está vendo que não é dela, ainda que a tenham adaptado para parecer que o fosse, enrolada em uma pesada capa que, com aquele calor, deve estar sendo para ela um suplício.
– Permites-me parar em tua casa e falar daqui aos que me acompanham? –(Isto queria dizer “falar a toda Magdala”, porque a população em peso formou acompanhamento ao grupo dos apóstolos.)
– E, ainda me perguntas, Senhor? Mas a minha casa é tua.
E se dá ao trabalho de levar cadeiras e bancos às mulheres e aos apóstolos. Passando ela por perto de Madalena, faz-lhe uma inclinação, como uma escrava.
– Paz a ti, minha irmã, lhe responde ela.
E a surpresa da mulher chega a tal ponto, que ela deixa cair o pequeno banco, que estava em suas mãos. Mas ela não diz nada. Contudo, aquele ato me fez pensar que Maria antes devia ter tratado os seus súditos de um modo soberbo. E aquela mulher acaba de ficar mesmo assombrada, quando ouve Madalena perguntar-lhe como vão os meninos, onde eles estão, e se a pesca tem sido boa.
– Estão bem…Uns estão na escola e outros com minha mãe. A pesca está boa. Meu marido te levará os dízimos…
– Não é mais preciso. Usa-os com os teus meninos. Queres deixar-me ver o pequenino?
– Vem.