Com certeza as fontes já estão próximas, porque a multidão vai aumentando cada vez mais, dirigindo-se de diversas estradas para um mesmo lugar. O cheiro das águas sulfurosas já está pesando no ar.
– Vamos descer para a margem a fim de evitar esses imundos?
–pergunta Pedro.
– Nem todos são imundos, Simão. Muitos de Israel também estão no meio deles –diz Jesus.
Chegaram às termas. Uma série de edifícios brancos de mármore, separados por avenidas e virados para o lago, mas separados dele por uma espécie de vasta esplanada arborizada e, sob a sombra das árvores passeiam, os que esperam sua vez para o banho, ou para a reação depois dele. Algumas cabeças de medusa feitas de bronze, salientes sobre o muro de um edifício, lançam água quente em um tanque de mármore, que é branco por fora, mas avermelhado no interior, como se estivesse recoberto de ferrugem. Muitos hebreus vão às fontes e, com uns cálices, bebem a água mineral. Eu vejo somente os hebreus fazendo isso, e só neste pavilhão. Penso estar adivinhando que os israelitas observantes terão querido um lugar próprio para evitar contatos com os gentios.
Muitos doentes estão sobre padiolas à espera da cura, muitos, vendo Jesus, gritam:
– Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim.
Jesus se dirige a eles. Paralíticos, artriticos, anquilosados, fraturados, cujos ossos não se soldam, doentes de anemias, das glândulas, mulheres envelhecidas antes do tempo, meninos tornados adultos antes do tempo. E depois, por baixo das árvores, mendigos que se lamentam, pedindo esmola.
Jesus para perto dos doentes. Espalha-se a notícia de que o Rabi vai falar e curar. As pessoas, mesmo as de outras raças, se aproximam para ver.
Jesus olha ao redor de Si. Sorri, ao ver sair, ainda com os cabelos úmidos pelo banho de ducha, o grego que lhe foi mandado por Síntique. O Mestre eleva a voz para fazer-se ouvir:
– A misericórdia abre as portas para a graça. Sede misericordiosos e obtereis misericórdia. Todos os homens são pobres em alguma coisa: uns em moedas, outros em afetos, outros na liberdade, outros na saúde. E todos os homens têm necessidade da ajuda de Deus, que criou o universo, que pode, como único Rei, socorrer aos seus filhos.
Ele faz uma pausa, como para dar tempo aos ouvintes de escolherem se vão querer ouvir, ou se querem ir aos banhos. Mas os banhos são deixados de lado pela maior parte. Israelitas ou gentios se aglomeram para ouvir, e alguns romanos escondem sua curiosidade com uma brincadeira, dizendo:
– Hoje não falta nem um reitor para fazer deste lugar umas termas romanas.
O grego Zenon abre ala no meio da multidão, gritando:
– Por Zeus! Eu estava para ir a Tariqueia, e te encontro aqui!