A visão me mostra a saída do povoado e o começo da viagem para Betsaida. Mas não ouço discursos, ao contrário, a visão tem uma interrupção, mas continua, na entrada de Betsaida. Compreendo que é essa a cidade, porque vejo Pedro, André e Tiago, junto com algumas mulheres que estão esperando Jesus na entrada do povoado.
– A paz esteja convosco. Eis-me aqui.
– Obrigado, Mestre, por nós e pelos que Te estão esperando. Hoje não é sábado, mas, dirás tuas palavras aos que estão esperando para Te ouvir?
– Sim, Pedro. Eu o farei. Na tua casa.
Pedro está exultante:
– Então, vem. Esta é minha mulher, esta é a mãe do João, e estas são as amigas delas. Mas há outros também à tua espera: são parentes e amigos nossos.
– Avisa-os que partirei de tarde, mas que antes falarei a eles.
Deixei de dizer que, tendo eles partido de Cafarnaum ao pôr-do-sol, os vi chegar a Betsaida pela manhã.
– Mestre, eu Te peço. Fica uma noite em minha casa. O caminho para Jerusalém é longo, mesmo que eu o encurte para Ti, com o barco até Tiberíades. Minha casa é pobre, mas honesta e amiga. Fica conosco esta noite.
Jesus olha para Pedro e para os outros, que estão todos esperando a resposta. Jesus os olha perscrutador. Depois, sorri e diz:
– Sim.
Nova alegria para Pedro.
Muitas pessoas estão olhando das portas, fazendo sinais com os olhos. Um homem chama Tiago pelo nome, fala-lhe baixo, indicando Jesus. Tiago anui, e o homem vai conversar com outros, que ficaram esperando numa encruzilhada.
Entram na casa de Pedro. Uma cozinha grande e enfumaçada. Em um canto há redes, cordas e cestas para a pesca. No meio, a lareira larga e baixa que, por enquanto, está apagada. Das duas portas opostas se vê a rua e o pequeno pomar com uma figueira e uma videira. Do outro lado da rua, vê-se o cérulo das ondas do lago. Além do pomar, está a parede escura de outra casa.
– Ofereço a Ti o que tenho, Mestre, e como sei…
– Melhor e mais não poderias, porque me ofereces com amor.
Dão a Jesus água para se refrescar e depois, pão e azeitonas. Jesus prova uns poucos bocados, mais para mostrar que aceita, depois recusa, agradecendo.
Do outro lado do pomar e da rua alguns meninos estão observando com curiosidade. Mas não sei se são filhos de Pedro. Só sei que, de vez em quando, ele lhes dá uns olhares ameaçadores, para barrar os pequenos invasores. Jesus sorri, e diz:
– Deixa-os à vontade.
– Mestre, queres descansar? Ali é o meu quarto, aquele é o de André. Escolhe. Não faremos barulho, enquanto descansas.
– Por acaso, não tens um terraço?
– Sim. A videira faz um pouco de sombra, mesmo que esteja ainda quase sem folhas.
– Leva-me, então, ao terraço. Prefiro descansar lá em cima. Lá, pensarei e rezarei.
– Como quiseres. Vem.
Do pequeno pomar, uma escadinha sobe para o teto, que é um terraço limitado por um baixo muro. Aqui também há redes e cordas. Mas quanta luz do céu e quanto azul do lago!
Jesus se assenta em um banco, com as costas apoiadas ao muro. Pedro lida com uma vela, que estende perto da videira para fazer uma proteção contra o sol. Há brisa e silêncio. Jesus está visivelmente gostando.
– Eu já me vou, Mestre.
– Vai. Tu e João, ide dizer que, ao pôr-do-sol, falarei aqui.
Jesus fica só e faz uma longa oração. Exceto dois casais de pombos, que vão e vêm dos ninhos, e um gorjeio de pássaros, não há barulho nem pessoas em torno de Jesus que reza. As horas passam calmas e serenas.