Voltam pela estrada para Betânia, estrada que acompanha o curso do Cedron, que faz um cotovelo em ângulo agudo depois de uma centena de passos de Siloé. Mas depois de terem passado o ângulo, pode-se ver a outra parte da estrada que continua para Betânia, e ei-lo lá, sozinho, caminhando apressado, Judas de Keriot.
– Mas é Judas! –exclama Tadeu, que o vê por primeiro.
– Por que aqui? Sozinho? Ah! É Judas! –grita Pedro.
Judas se vira, de chofre. Está pálido, ou melhor, está esverdeado. E Pedro lhe diz:
– Terás visto o demônio para estares assim, da cor da alface?
– Que é que estás fazendo aqui, Judas? Por que deixaste os companheiros? –pergunta Jesus, ao mesmo tempo.
Judas já está senhor de si. E diz:
– Eu estava com eles. Encontrei alguém com notícias de minha mãe. Olha… –se remexe na cintura.
Bate a mão na testa dizendo:
– Deixei com aquele homem! Queria que lesses a carta… Ou perdi no caminho… Ela não está muito bem. Realmente está ruim… Mas eis ali os companheiros… Eles pararam. Eles te viram… Mestre, eu estou chateado…
– Eu vejo.
– Mestre… aqui estão as bolsas. De uma eu fiz duas para… para não darem na vista… Eu estava sozinho…
Os apóstolos Bartolomeu, Filipe, Mateus, Simão e Tiago de Zebedeu estão um pouco embaraçados. Eles se aproximam de Jesus com amor, mas como quem sabe que está em falta.
Jesus olha para eles e diz:
– Não o façais mais. Nunca é bom para vós separar-vos. Se Eu vos digo que não o façais é porque sei que tendes necessidade de auxiliar-vos um ao outro. Não sois tão fortes que possais agir por vós mesmos. Mas, unidos, um refreia e ajuda o outro. Separados…
– Fui eu, Mestre, quem deu o mau conselho, pois nos lembramos depois que Tu havias dito que não nos separássemos, que fôssemos todos juntos para Betânia, e Judas tinha ido viajar por um justo motivo, e nós não tínhamos pensado em ir com ele. Perdoa-me, Senhor
–diz, humilde e com sinceridade, Bartolomeu.
– Sim, Eu vos perdoo. Mas vos repito: não o façais mais. Pensai que obedecer salva sempre, pelo menos de um pecado: o de presumir que somos capazes de agir por nós mesmos. Vós não sabeis quanto o demônio gira ao redor de vós para lançar mão de todos os motivos para vos fazer pecar e fazer mal ao vosso Mestre, já tão perseguido. São tempos cada vez mais difíceis para Mim e para o organismo que Eu vim formar. Assim sendo, é necessário muito cuidado para que tal não aconteça, não digo que seja ferido e morto, porque não o será nunca mais, até o fim dos séculos, mas emporcalhado de lama. Os seus adversários olham atentamente para vós e não vos perdem nunca de vista, assim como estão sempre pesando todos os meus atos e palavras. E isto para terem motivos, a fim de poderem me acusar. Se vós vos mostrardes litigiosos, divididos, de qualquer maneira imperfeitos, mesmo em coisas de pouco valor, eles recolherão e manipularão o que vós fizestes, e o lançarão como uma lama e uma acusação contra Mim e minha Igreja, que vai se formando. Vós o estais vendo! Eu não vos repreendo, mas vos aconselho. Para o vosso bem. Ah! Não sabeis, meus amigos, que até as coisas melhores eles manipularão e apresentarão para poderem acusar-me com uma aparência de justiça? Eia, pois! Para o futuro, sede mais obedientes e prudentes.
Os apóstolos estão todos comovidos pela serenidade de Jesus.
Judas Iscariotes está continuamente mudando de cor. Está acanhado, um pouco atrás de todos, e até Pedro chega a lhe dizer:
– Que é que estás fazendo aí? Não estás mais errado do que os outros. Então, vem para frente com os outros –e ele vê que é necessário obedecer.