Propagam-se as notícias mais disparatadas sobre a causa da morte, sobre o lugar do sepultamento, sobre a ausência de Cristo da casa do seu grande amigo precisamente naquelas circunstâncias, e este é o assunto que mais dá o que falar aos grupinhos. E sobre Ele as opiniões que prevalecem são duas: uma,é que isso aconteceu, ou melhor, foi devido ao mau modo de proceder dos judeus, dos sinedritas, dos fariseus e seus semelhantes contra o Mestre. E a outra é que o Mestre, tendo à sua frente uma verdadeira doença mortal, dela se afastou, porque aqui não haveria lugar para pôr em prática as suas fraudes. Mesmo sem sermos astutos, é fácil compreender-se de qual fonte tenha nascido essa última opinião, que tentou envenenar a muitos. Mas estes replicam:
– Serás tu também um fariseu? Se o és, toma cuidado contigo mesmo, porque entre nós não se blasfema contra o santo! Malditas víboras, paridas pelas hienas em seu acasalamento com o Leviatã! Quem é que vos paga para blasfemardes contra o Messias?
Bate-bocas, insultos e até alguns murros e impropérios salgados contra os imponentes fariseus e escribas, que passam com ares de deuses, sem querer dar nem um simples olhar para o povo, que vocifera, uns pró e outros contra eles, e contra o Mestre, em altos brados pelas ruas. Quantas acusações!
– Este homem está dizendo que o Mestre é um falso! Certamente foi alguém que lhe deu dinheiro para isso.
– Foi com o dinheiro deles? Com o nosso dinheiro, é como deves dizer. Eles nos esfolam, a fim de levarem para frente os seus planos. Mas onde é que está esse homem, que eu quero ver se é um daqueles que vieram dizer-me ontem…
– Aquele fugiu. Mas viva Deus! Aqui devemos unir-nos e agir. Eles são muito descarados.
Outro assunto:
– Eu já te ouvi e te conheço. Direi a quem de direito como falas do Supremo Tribunal!
– Eu sou de Cristo, e a baba do demônio não me atinge. Dize isso também a Anás e a Caifás, se o quiseres, se isso os ajudar a se tornarem mais justos.
E ouve-se mais lá ao longe:
– Falas comigo, logo comigo que sou chamado perjuro e blasfemador, por seguir o Deus vivo? Tu é que és perjuro e blasfemador, pois o ofendes e persegues. Eu te conheço, sabes? Eu já te vi e ouvi. Espião! Vendido! Vindes prender este homem… –e enquanto isso começa a bater-lhe no rosto, a dar-lhe uns sopapos que fazem ficar vermelho o rosto ossudo e esverdeado de um judeu.
– Cornélio, Cipião, tomai cuidado. Estão me maltratando –diz um outro lá de longe, dirigindo-se a um grupo de sinedritas.
– Suporta-o pela fé, e não sujes os teus lábios e tuas mãos na vigília de nenhum sábado –responde um dos que foram chamados. Mas sem virar-se para ver qual é o infeliz contra o qual um grupo de plebeus está querendo fazer um exercício de justiça rápida.
As mulheres começam a gritar, chamando por seus maridos com súplicas, para que eles não se envolvam naquilo.
Os legionários circulam em suas patrulhas, abrindo caminho à força de golpes de lança e ameaçando com prisões e punições.
A morte de Lázaro, que é o fato principal do dia, é o assunto do qual eles partem para outros fatos secundários e também um desafogo para a longa tensão na qual estão os corações…
Os sinedritas, os anciãos, os escribas, os saduceus, os judeus poderosos, passam todos indiferentes e sombrios, como se todo aquele explodir de pequenas iras, de vinganças pessoais, de nervosismo, não tivesse neles a sua origem. E quanto mais vão passando as horas, mais a fervura cresce e os corações se agitam.
– Dizem estes – escutem isso – que o Cristo não pode curar os doentes. Eu era um leproso e agora estou são. Conheceis vós a esses tais? Eu não sou de Jerusalém e nunca os vi entre os discípulos de Cristo, de dois anos para cá.
– Esses? Deixa-me ver aquele lá do meio! Ah! É um tratante e ladrão. Aquele que, no mês passado, veio oferecer-me dinheiro em nome de Cristo, dizendo que está alistando a soldo homens a fim de apoderar-se da Palestina. E agora está dizendo… Mas por que foi que o deixaste escapar?
– Eu compreendi, ouviste? Que malandros! E por pouco eu caía nessa. Bem que tinha razão o meu sogro.