Mas depois eles querem reunir-se de novo ao redor do Mestre e pedem uma parábola, “uma bela parábola”, como eles dizem, “serena com este dia de Nisã.”
– Não uma vos contarei, mas duas. Ouvi.
Um homem quis um dia acender duas luzes para honrar o Senhor em uma festa. Tomou dois vasos de igual largura, colocou neles a mesma quantidade de óleo, da mesma qualidade, dois pavios iguais, um em cada um, e as acendeu na mesma hora, a fim de rezarem por ele enquanto ele trabalhava, como lhe havia sido permitido.
Ele voltou depois de certo tempo e viu que uma das luzes estava soltando chamas altas, enquanto que a outra tinha uma chamazinha fraca, muito fraca, que era apenas um pontinho de luz no canto onde estavam as luzes acesas. O homem pensou que era um defeito do pavio. E foi observá-la. Mas não era. O pavio estava bom. Só que ele não queria queimar tão alegremente como a outra luz, que lançava sua chama para o alto como se fosse uma língua, e parecia até que murmurasse palavras, de tão alegre que estava, e tanto que, ao agitar-se chamejando, parecia estar soltando um leve murmúrio. “Esta luz canta de verdade os louvores do Senhor Altíssimo!”, disse ele a si mesmo. “Mas esta outra! Olha só, minha alma! Parece que lhe seja pesado honrar o Senhor, pois o faz com tão pouco ardor!”, e voltou para os seus trabalhos.
Retornou algum tempo depois. Uma das chamas tinha ficado ainda mais alta. E a outra havia ficado mais baixa, e sua chama estava ficando cada vez mais parada, quanto mais a outra esplendia vibrantemente. Ele voltou uma segunda vez. A mesma coisa. Uma terceira vez: a mesma coisa. Mas ao ir pela quarta vez, viu o quarto cheio de uma fumaça mal cheirosa e escura, e somente uma chamazinha luzindo através dos véus da fumaça espessa. Ele dirigiu-se a mísula, onde estavam as luzes, e viu que aquela que tanto chamejava antes estava agora acabada e enegrecida, e tinha até sujado, com sua labareda, a parede branca. A outra, ao contrário, continuava constante, com sua luz a honrar o Senhor.
Ele estava para ir consertar o defeito, quando uma voz lhe falou bem perto dele:
“Não mude as coisas do jeito em que estão. Mas medita sobre elas, pois são um símbolo. Eu sou o Senhor.”
O homem se jogou com o rosto por terra, adorando e, com grande tremor, ousou dizer:
“Eu sou um estulto. Explica-me, ó Sabedoria, o significado dessas luzes, das quais a que parecia mais ativa em prestar-te honras, só deu prejuízo, mas a outra continua com sua luz.”
“Sim, Eu o farei. Assim é que acontece com os corações dos homens. E como aconteceu com estas duas luzes. Há aqueles que no princípio estão acesos; e brilham, e são admirados pelos homens, pelo tanto que parece perfeita e constante a chama deles. E há homens que têm um esplendor manso, que não chama a atenção, e pode até parecer uma tibieza em prestar honras ao Senhor. Mas, tendo passado a primeira labareda, ou a segunda, ou a terceira, entre a terceira e a quarta começam a dar prejuízo e depois se apagam, com perda, porque a luz deles não era de confiança. Quiseram brilhar mais para os homens do que para o Senhor e a soberba acabou com eles em pouco tempo, no meio de uma fumaça negra e pesada, que escureceu até o ar. Os outros tiveram uma vontade única e constante: a de honrar somente a Deus, sem se preocuparem se os homens os louvavam, e se empenharam a si mesmos com uma chama longa e clara, que não tinha fumaça nem mau cheiro. Procura saber imitar a luz constante, porque só ela é agradável ao Senhor.”
O homem tornou a levantar a cabeça… o ar tinha ficado limpo da fumaça e a chama da luz fiel resplendia agora sozinha, pura, firme em honra de Deus, com o luzir do metal de sua luz como se fosse de puro ouro. E ele a ficou olhando brilhar, sempre com um brilho igual, durante horas e horas, até que docemente, sem fumaça, sem mau cheiro, em uma de suas palpitações se exalou, parecendo subir para o céu, para ir fixar-se entre as estrelas, tendo servido com dignidade ao Senhor até com sua última gota de óleo, no último instante de sua vida.
Em verdade, em verdade Eu vos digo que muitos são aqueles que produzem uma grande chama no começo e chamam a atenção do mundo, que não vê mais do que superficialmente as ações humanas. Mas depois acabam virando carvão, soltando até o fim suas fumaças de cheiro desagradável. Em verdade Eu vos digo que o chamejar desses não é tido em conta por Deus, porque Deus vê que aquilo é um orgulhoso arder para um fim humano. Bem-aventurados aqueles que sabem imitar a segunda luz e não carbonizar-se, mas subir ao céu com a última palpitação de seu constante amor.