Mais adiante, sentada entre Marziam e Maria de Cléofas, está a Mãe do Senhor. Ela se levanta vendo-o aproximar-se, adorando-o com todo o palpitar do seu coração de Mãe e de fiel.
– Vem, minha Mãe, e também tu, Maria… – Jesus as convida ao vê-las paradas, paralizadas diante da sua majestade, que está fulgurando como no dia da Ressurreição.
Mas Jesus não quer causar-lhes acanhamento com esta sua majestade, e pergunta, de modo muito afável, a Maria do Alfeu:
– Tu ficaste sozinha?
– As outras… as outras já estão lá adiante… com os pastores e… com Lázaro e toda a sua família… Mas eles nos deixaram aqui, porque… Oh! Jesus! Jesus! Jesus!… Como farei quando não te vir mais, ó Jesus bendito, meu Deus, eu que te amei antes ainda que Tu tivesses nascido, eu que tenho chorado tanto por Ti quando não sabia onde é que Tu estavas depois daquela chacina… eu que tive o meu sol no teu sorriso, desde que tu voltaste, e contigo todo, todo o meu bem?… Ah! Quanto bem! Quanto bem Tu me deste!… Agora, sim, que eu irei ficar verdadeiramente pobre, viúva e sozinha!… Enquanto estavas aqui, eu tinha Tudo!… Eu pensava que havia conhecido a maior das dores naquela noite… Mas a dor, toda a dor daquele dia me tinha feito ficar meio tresloucada e… sim, era menos forte que a de agora… E depois… era certo que ias ressuscitar. Parecia-me que eu não estava acreditando, mas eu me lembro agora que eu acreditava, sim, porque eu não estava sentindo o que estou sentindo agora…
E ela chora e arfa, de tanto que o pranto a sufoca.
– Boa Maria, tu te afliges como um menino que acha que sua mãe não o ama e o tenha abandonado, porque ela foi à cidade comprar para ele uns brinquedos que o tornarão feliz, e que logo ela estará de volta a ele para cobri-lo de carícias e de presentes. E Eu não faço assim contigo? Não estou indo preparar a tua alegria? Não estou indo, para te dizer de lá: “Vem, minha parenta, minha discípula fiel e mãe dos meus diletos discípulos?” Não te deixo o meu amor? Eu te dou o meu amor, Maria! Tu sabes que Eu te amo! Não fiques chorando assim, mas alegra-te, porque não me verás mais maltratado e cansado, não mais perseguido, e rico somente por ter o amor de uns poucos. E com o meu amor, Eu te deixo a minha Mãe. João será um filho para ela, mas tu podes ser a boa irmã dela, como sempre. Estás vendo? Ela, a minha Mãe, não está chorando. Ela sabe que, se a saudade de Mim será como uma lima que consumará o seu coração, a espera será sempre breve em comparação com a grande alegria de uma eternidade de união, e sabe também que essa nossa separação não será algo tão absoluta que a faça dizer: “Não tenho mais Filho.” Este era o seu grito de dor no dia da dor. Agora, no seu coração, canta a esperança: “Eu sei que meu Filho vai subir para o Pai, mas que Ele não me deixará sem os seus amores espirituais.” Assim é que crês, tu e todos…