Os que partem, vão embora rápido. Os que ficam, entram no terceiro quarto grande e comem pão, ou o que os discípulos lhes oferecem em nome de Deus. Sobre os rústicos cavaletes foram colocadas tábuas e palhas e lá podem dormir os peregrinos.
A mulher velada vai embora, com passo rápido, a outra que antes já chorava, e que continuou chorando enquanto Jesus estava falando, perambula incerta, mas depois resolve ir embora.
Jesus entra na cozinha para alimentar-se. Mas, mal começa a comer, batem à porta.
André se levanta, pois está mais perto da porta, e sai para a eira. Fala, e depois torna a entrar:
– Mestre, uma mulher, aquela que estava chorando, quer falar Contigo. Ela diz que precisa ir embora, e que deve falar-te.
– Mas, desse modo, quando e como é que o Mestre vai poder comer? –exclama Pedro.
– Devias ter-lhe dito que viesse mais tarde –diz Filipe.
– Silêncio. Eu comerei depois. Continuai, vós.
Jesus sai. A mulher está lá fora.
– Mestre… uma palavra… Tu disseste… Oh! Vem atrás da casa! É penoso dizer a minha dor!
Jesus faz-lhe a vontade, sem dizer nada. Só quando estão atrás da casa, Ele pergunta:
– Que queres de Mim?
– Mestre… eu te ouvi antes, quando estavas falando no meio de nós… e depois eu te ouvi, quando estavas pregando. Parecia que estavas falando para mim. Tu disseste que em toda doença física ou moral está satanás… Eu tenho um filho que está doente no coração. Se ele te tivesse ouvido, quando falaste dos pais! É o meu tormento! Ele se desviou com maus companheiros e é… é justamente como Tu dizes… ladrão… em casa, por enquanto, mas… É rixento… prepotente… Jovem como é, se arruína com luxúrias e crápulas. Meu marido quer expulsá-lo. Eu… eu sou a mãe… e sofro mortalmente. Estás vendo como o meu peito está arquejando? É o meu coração que se despedaça de tanta dor. Desde ontem estou querendo falar-te porque… espero em Ti, meu Deus. Mas não ousava dizer nada. É tão doloroso para uma mãe ter que dizer: “Eu tenho um filho cruel!”
A mulher chora, encurvada e angustiada, diante de Jesus.
– Não chores mais. Ele vai ficar curado do seu mal.
– Se ele pudesse ouvir-te, sim. Mas ele não quer ouvir-te. Oh! Ele nunca ficará são!
– Mas tu não tens fé por ele? Não queres tu por ele?
– E o perguntas a mim? Venho lá da Alta Pereia para pedir-te por ele…
– Então vai. Quando chegares em casa, teu filho virá ao teu encontro, arrependido.
– Mas, como?
– Como? Pensas que Deus não pode fazer o que Eu peço? Teu filho está lá. Eu estou aqui. Mas Deus está em toda parte. Eu digo a Deus: “Pai, piedade por esta mãe.” E Deus trovejará o seu chamado no coração do teu filho. Vai, mulher. Um dia passarei pelas regiões da tua cidade e tu, orgulhosa do teu filho homem, virás ao meu encontro junto a ele. E quando ele estiver chorando sobre os teus joelhos, pedindo-te perdão e contando-te sua misteriosa luta, da qual saiu com uma alma nova, e te perguntar como foi que aconteceu aquilo, tu lhe dirás: “É por Jesus que renasceste para o Bem.” Fala a ele de Mim. Se tu vieste a Mim, é sinal que sabes. Faz que ele saiba e pense em Mim, para que tenha consigo a força que salva. Adeus. Paz à mãe que teve fé, ao filho que volta, ao pai contente, à família recomposta. Vai.
A mulher vai-se em direção ao povoado e tudo termina.