Mas, diz a mim, meu Mestre. Vais dar um filho também a mim? Nós estamos velhos… Mas Tu disseste que o Batista nasceu de uma velha… Agora Tu disseste: “E a quem vier depois de ti, tu dirás…” Quem é que vem depois de um homem, senão quem foi gerado por ele?
Pedro está com um semblante de quem pede e tem esperança.
– Não, Pedro. E não fiques sentido por isso. Estás mesmo te parecendo com o teu lago, quando o sol está escondido por uma nuvem. De sorridente, tornou-se escuro. Não, meu Pedro. Mas não um e sim, mil, dez mil filhos terás, e em todas as nações… Não te lembras de que Eu te disse: “Serás pescador de homens”?
– Oh! Sim… mas… Teria sido tão doce ouvir um menino que me chamasse de “pai”!
– Terás tantos que nem os poderás contar. E a eles darás a vida eterna. E os reencontrarás no Céu, e os levarás a Mim, dizendo: “São os filhos do teu Pedro, e quero que estejam onde eu estou”, e Eu te direi: “Sim, Pedro, seja como tu queres. Porque tudo fizeste por Mim e Eu tudo faço por ti.”
Jesus é muito doce ao dizer estas promessas.
Pedro engole a saliva entre o pranto, por causa de sua esperança que morreu de ter uma paternidade terrena e o outro pranto de um êxtase que se anuncia:
– Oh! Senhor! –diz–. Mas para dar a vida eterna é necessário persuadir as almas para o bem. E… voltamos sempre ao mesmo ponto: eu não sei falar.
– Saberás falar, quando chegar a hora, melhor do que Gamaliel.
– Quero crer… Mas, faz Tu este milagre, porque, se eu tiver que chegar a isso por mim…
Jesus ri, com o seu riso tranquilo e diz:
– Hoje sou todo teu. Vamos para o povoado. Vamos à casa daquela viúva. Tenho um óbolo secreto. É um anel para vender. Sabes como o consegui? Uma pedra veio bater em meus pés, enquanto estava rezando debaixo deste salgueiro. Na pedra estava amarrado um embrulhinho com uma pequena tira de pergaminho. Dentro do pacotinho estava o anel. E no papel estava escrita a palavra ‘caridade’.
– Deixas-me ver? Oh! Que bonito! É de mulher. E que dedo pequeno! Mas quanto metal!!
– Agora tu o venderás. Eu não sei fazer isso. O hospedeiro compra ouro. Estou sabendo. Eu te espero junto ao forno. Vai, Pedro.
– Mas… e se não souber fazer? Eu, lidar com ouro… De ouro eu não entendo!
– Faz de conta que é pão para quem está com fome. E faz o negócio do melhor modo que puderes. Adeus.
E Pedro vai para a direita, enquanto Jesus, mais lentamente, vai para a esquerda, em direção ao povoado, que já está aparecendo a uma certa distância, por detrás de um pequeno bosque, que está além da casa do feitor.