Jesus põe-se de novo em movimento e, atraído por dois olhos estãovoltados para Ele, diz a um jovem alto e robusto, que tinha parado para deixar passar o cortejo, mas parece estar se dirigindo para outra parte:
– Segue-me.
O jovem leva um susto, muda de cor, pisca os olhos como ofuscado por uma luz e depois abre a boca para falar, não encontrando-o logo resposta para dar. Enfim diz:
– Eu Te seguirei. Mas meu pai morreu em Corozaim, e preciso ir sepultá-lo. Deixa que eu vá fazer isso e depois virei.
– Segue-me. Deixa que os mortos sepultem os seus mortos. Tu já sentes um forte desejo da Vida. Há tempo que tens esse desejo. Não fiques chorando, por ter a Vida criado um vácuo ao redor de ti, a fim de ter-te como seu discípulo. As mutilações do afeto são raízes das asas que nascem no homem, que se transformou em servo da Verdade. Deixa que a corrupção siga os seus rumos. Levanta-te para o Reino do que é incorrupto. Nele encontrarás também a pérola incorruptível do teu pai. Deus chama e passa. Amanhã não encontrarás mais o coração que tens hoje e o convite de Deus. Vem. Vai anunciar o Reino de Deus.
O homem, encostado a um pequeno muro, está com os braços caídos, e neles estão penduradas algumas bolsas, cheias de unguentos e de tiras; sua cabeça está inclinada, mergulhada na dúvida entre dois amores: o devido a Deus e o devido a seu pai.
Jesus fica esperando e olhando para ele, depois segura uma criança e a aperta ao coração, dizendo:
– Fala comigo: “Eu Te bendigo, ó Pai, e invoco a tua luz para aqueles que choram nas névoas da vida. Eu Te bendigo, ó Pai, e invoco a tua força para quem é como uma criança, necessitada de ser carregada. Eu Te bendigo, ó Pai, e invoco o teu amor para que se esqueçam de tudo que não sejas Tu, todos aqueles que em Ti encontrariam, todo o seu bem aqui e no Céu, mas não sabem crer.”
E o menino, um inocente de quatro anos, repete com sua vozinha, as palavras santas, com suas mãozinhas juntas e postas em posição de oração pela mão direita de Jesus, que as segura pelo pulso gorducho como talos de flores.
O homem, então se decide. Dá a um companheiro os seus embrulhos e vai até Jesus, que põe no chão o menino, abraça depois o jovem, fazendo isso para animá-lo e ajudá-lo no esforço que está fazendo.