Mas, em vez de Sara, quem aponta no alto de uma escada, que está ao lado da casa, é uma mulher muito velhinha, já toda cheia de rugas, e com os cabelos bem salpicados de fios brancos, cabelos que um dia devem ter sido muito pretos, bem como os cílios e as sobrancelhas. Ela deve ter sido morena, pela cor do seu rosto. Um contraste estranho com a sua evidente velhice é o seu estado, já muito visível, mesmo estando com vestes amplas e soltas. Ela olha, fazendo um anteparo com a mão, para amortecer a claridade. Logo reconhece Maria. Levanta, então os braços para o céu, diz um “Oh!” cheio de pasmo e de alegria, e se precipita, do melhor modo que pode, ao encontro de Maria. Também Maria, que é sempre tranqüila em seus movimentos, corre agora, ágil como um cervo, chega até os pés da escada, na mesma hora em que Isabel também chega, e recebe a sua prima sobre o coração, que com viva expansão, chora de alegria ao vê-la.
Ficam abraçadas por um instante, depois Isabel solta um “Ah!”, que é um misto de dor e de alegria, e leva as mãos sobre o ventre avolumado. Abaixa o rosto, empalidecendo e ruborizando-se alternadamente. Maria e o criado estendem as mãos para sustentá-la, porque ela está vacilando, como quem se sente mal.
Mas Isabel, depois de ter ficado um minuto como que recolhida em si mesma, levanta um rosto de tal modo radiante, que parece rejuvenescido, olha para Maria, sorrindo com veneração, como se estivesse vendo um anjo, e depois se inclina em uma saudação, que vem do fundo do seu ser, dizendo:
– Bendita és tu entre todas as mulheres! Bendito é o Fruto do teu ventre! (ela fala assim em duas frases bem destacadas). Como foi que eu mereci que tenha vindo a mim, Sua serva, a mãe do meu Senhor? Pois, ao som da tua voz o menino saltou em meu ventre, como cheio de alegria, quando eu te abracei, e o Espírito do Senhor disse ao meu coração verdades altíssimas. Tu és bem-aventurada, Maria, porque acreditaste que para Deus fosse possível até o impossível, segundo a nossa mente humana! Tu és bendita porque, por causa da tua fé, farás cumprir as coisas que foram para ti preditas pelo Senhor e preditas aos Profetas, para este tempo! Tu és bendita, pela saúde que geras à estirpe de Jacó! Tu és bendita por teres trazido a santidade ao meu filho que salta como um cabrito, querendo externar sua alegria. Salta de puro júbilo em meu ventre, porque está sentindo-se libertado do peso da culpa, chamado para ser aquele que deve preceder sendo, para isso, santificado antes da Redenção, pelo Santo que está crescendo em ti!
Maria, com duas lágrimas que descem como pérolas de seus olhos, que estão rindo com a boca que sorri, com o rosto levantado para o céu e com as mãos também elevadas, naquela postura que, mais tarde, muitas vezes vai ser tomada por Jesus, exclama:
– Minha alma canta as grandezas do seu Senhor –e continua o cântico como nos foi transmitido. No fim, ao versículo: “Veio em socorro de Israel, seu servo, etc.,” ela junta as mãos sobre o peito, e se ajoelha, muito inclinada para a terra, adorando a Deus.