Mas as pessoas de Belém, com um respeito quase aterrorizado, pedem:
– Fala-nos, Senhor. Tu és realmente poderoso. Tu és certamente aquele de quem falou o homem, que por aqui passou anunciando o Messias.
– Eu falarei à noite, perto do redil dos pastores. Por ora, vou confortar a mãe.
E vai até à mulher, que está sentada no colo da Maria de Alfeu, e já vai recobrando os sentidos, cada vez mais, olhando para o rosto amoroso de Maria, que lhe sorri, mas não conseguindo ainda entender nada, até o momento em que desce o olhar até a cabeça morena de seu filho, que está inclinado sobre suas mãos vacilantes, e pergunta:
– Morri eu também? Este é o Limbo?
– Não, mulher. Esta é a terra, este é o teu filho, que foi salvo da morte. E este é Jesus, meu Filho, o Salvador.
A mulher faz um movimento perfeitamente humano, em primeiro lugar. Ela ajunta suas forças, e se inclina para a frente, a fim de pegar a cabeça inclinada do seu filho e, então, vê que ele está vivo e são, e o beija freneticamente, chorando, rindo, procurando lembrar-se de todos os nomes que ele teve no berço, para dizer-lhe sua alegria.
– Sim, mamãe, sim. Mas agora olha, não para mim. Olha para Ele. Para Ele que me salvou. Bendize o Senhor.
A mulher, ainda muito fraca para levantar-se, ou para pôr-se de joelhos, estende as mãos, que estão tremendo e sangrando ainda, e pega na mão de Jesus, cobrindo-a de beijos e de lágrimas.
Jesus lhe põe a mão esquerda sobre a cabeça, dizendo-lhe:
– Sê feliz. Em paz. E sê sempre boa. E tu também, Abel.
– Não, meu Senhor. A minha vida e a de meu filho são tuas. Porque Tu as salvaste. Deixa que eu acompanhe os discípulos, como eu já desejava, desde que eles estiveram aqui. Eu te dou minha vida com grande alegria e te peço que deixes que eu o siga para servi-lo e servir aos servos de Deus.
– E a tua casa?
– Oh! Senhor! Pode quem ressuscitou da morte ter ainda os afetos que tinha, antes de morrer? Mirta ficou livre da morte e do Inferno por Ti. Neste povoado eu poderia chegar a odiar aqueles que me torturaram, quando maltrataram o meu filho. E Tu pregas o amor. Eu sei. Deixa, pois, que a pobre Mirta ame ao único que merece amor, à sua missão e aos seus servos. Agora estou exausta, e não poderia acompanhar-te. Mas, logo que eu puder, permite-me, Senhor. Estarei em tua companhia e perto de meu Abel…
– Seguirás o teu filho e a Mim com ele. Sê feliz. Fica em paz agora. Com a minha paz. Adeus.
E, enquanto a mulher, ajudada pelo filho e por algumas pessoas compadecidas dela, vai entrando em casa, Jesus, com os pastores, apóstolos, sua Mãe e Maria de Alfeu, volta para fora do povoado, indo depois para o redil que fica na extremidade de uma estrada, que termina nos campos…