Em qualquer cidade ou lugar em que entrardes, informai-vos se há lá alguém que mereça acolher-vos. Não porque sois Simão, ou Judas, ou Bartolomeu, ou Tiago ou João, e assim por diante. Mas porque sois os enviados do Senhor. Ainda que tivésseis sido uns rejeitados, assassinos, ladrões, uns publicanos, mas agora arrependidos e justos a meu serviço, mereceis respeito, porque sois meus enviados. E digo ainda mais. Eu digo: Ai de vós, se tiverdes a aparência de enviados meus, mas, em vosso interior fordes uns imundos e endemoninhados. Ai de vós! O inferno ainda é pouco para o que vós mereceis, pelo engano que praticais. Mas, ainda que tiverdes sido, ao mesmo tempo enviados claramente por Deus, e uns rejeitados, uns publicanos, uns ladrões, uns assassinos ocultos, ou até mesmo se uma suspeita houvesse nos corações a respeito de vós, ou quase uma certeza, que vos sejam prestados honra e respeito, porque vós sois meus enviados. Os olhares dos homens devem dirigir-se para além do enviado, olhar para Deus e para sua obra, acima do enviado, que pode ser defeituoso. Só em caso de culpa grave, que lese a fé nos corações, Eu, por enquanto, e depois quem irá ficar em meu lugar, é que tomará providências para amputar o membro podre. Porque não é lícito que por um sacerdote demônio se percam as almas dos fiéis. Nunca será lícito, para esconder as feridas nascidas no corpo apostólico, permitir que sobrevivam nele uns corpos gangrenados que, com seu aspecto repugnante, afastam, e com seu fedor demoníaco envenenam.
Portanto, vós vos informareis sobre qual é a família de vida mais reta, na qual as mulheres sabem estar retiradas e onde os costumes são irrepreensíveis. E nela entrareis e ficareis até o dia da partida do lugar. Não imiteis os zangões que, depois de haverem sugado uma flor, passam para outra mais nutriente. Vós, mesmo se tiverdes ido para uma família humilde, rica somente em virtude, ficai lá onde estiverdes. Não fiqueis procurando “o melhor” para o corpo que perece. Mas, antes, dai a ele sempre o pior, reservando todos os direitos ao espírito. E Eu vo-lo digo, porque é bom que o façais, dai, se o puderdes fazer, dai preferência aos pobres para a vossa hospedagem. Para não humilhá-los, lembrai-vos de Mim, que sou sempre pobre, e que de ser pobre Me glorio, e também porque os pobres são muitas vezes melhores do que os ricos. Encontrareis sempre pobres justos, enquanto que é raro encontrar um rico sem injustiça. Por isso, não tendes a desculpa de dizer: “Não encontrei bondade, a não ser nos ricos”, para justificardes o vosso desejo de bem-estar.
No ato de entrardes na casa, saudai com a minha saudação, que é a mais doce que há. Dizei: “A paz esteja convosco. A paz esteja nesta casa”, ou então, “a paz venha a esta casa.” De fato, vós, enviados de Jesus e da Boa Nova, levais convosco a paz, e a vossa ida a um lugar é o mesmo que fazer ir a ele a paz. Se a casa for digna dela, a paz virá, e permanecerá na casa. E, se não for digna dela, a paz voltará a vós. Mas, tomai cuidado para serdes pacíficos, para terdes Deus como vosso Pai. Um pai ajuda sempre. E vós, ajudados por Deus, tudo fareis, e tudo bem feito.
Pode acontecer também, e certamente acontecerá, que haja cidade ou casas, que não vos queiram receber, que não queiram ouvir a vossa palavra, expulsando-vos e zombando de vós, e até perseguindo-vos a pedradas, como a uns profetas aborrecidos. E é aí que tereis, mais do que nunca, a necessidade de serdes pacíficos, humildes, mansos, por hábito em vossa vida. Porque, se assim não for, a ira tomará a dianteira, e vós pecareis, escandalizando, e aumentando a incredulidade dos que deviam ser convertidos. Ao passo que, se receberdes a ofensa de serdes expulsos, de serdes feitos objetos de zombaria e perseguidos, com a paz os convertereis, pois ela é a mais bela das pregações, a do silêncio de uma verdadeira virtude. Reencontrareis um dia os inimigos de hoje, em vosso caminho, e eles vos dirão: “Nós vos estamos procurando, porque o vosso modo de agir nos persuadiu da verdade que anunciais. Que vós queirais perdoar-nos e receber-nos como discípulos. Porque nós não vos conhecíamos, mas agora vos conhecemos como a uns santos. Por isto, se sois santos, deveis ser os enviados de um santo, e agora nós cremos nele.” Mas, ao sairdes da cidade, ou da casa, onde não fostes recebidos, sacudi até o pó de vossos sapatos, para que a soberba e a dureza daquele lugar não se apeguem nem mesmo às vossas solas. Em verdade, Eu vos digo: No dia do Juízo, Sodoma e Gomorra serão menos duramente tratadas do que aquela cidade.