Jesus está ouvindo com atenção uma pobre viúva, que lhe conta, por entre lágrimas, como foi a morte repentina de seu marido, que era carpinteiro, quando ele estava em seu banco de trabalho, e acontecida poucos dias antes:
– Eu saí correndo à procura de Ti, chegando até aqui e, então, todos os parentes do falecido me acusaram de ser uma mulher sem compostura e dura de coração, e ainda continuam a falar mal de mim. Mas eu vim porque sei que Tu ressuscitas os mortos, e sei que se eu pudesse encontrar-te, meu marido teria sido ressuscitado. Mas Tu não estavas aqui. Agora ele está no sepulcro, há duas semanas… e eu estou aqui com meus cinco filhos… Os parentes me odeiam, e não me ajudam. Eu tenho oliveiras e videiras. São poucas, mas poderiam dar-me o pão para o inverno, se eu pudesse conservá-las até o tempo da colheita. Mas eu não tenho dinheiro, porque o falecido, há tempo já não vinha muito bom, e pouco podia trabalhar e, para manter-se, comia e bebia até demais… Ele dizia que o vinho lhe fazia bem… quando, na verdade o que lhe fez foi o mal dobrado de matá-lo e de levar embora as nossas economias, que já estavam tão magras, por causa do pouco trabalho dele. Ele estava para terminar um carro e um cofre e já tinha montado duas camas, umas mesas e mesinhas. Mas agora… Mas agora ficaram por acabar, e o meu filho homem não tem ainda nem oito anos. Eu vou perder o dinheiro… Vou ter que vender as ferramentas, a madeira. O carro e o cofre eu nem os posso vender como carro e cofre, porque, tendo ficado inacabados, vou precisar vendê-los como lenha para queimar. E o dinheiro que isso der não bastará, porque eu, minha mãe já velha e doente e meus cinco filhos, somos sete pessoas… Eu vou vender a vinha e as oliveiras. Dize-me: que devo fazer? Eu gostaria de conservar o banco e as ferramentas para o meu filho, que já sabe alguma coisa a respeito de madeira… gostaria também de conservar a terra, para dela viver, e como dotes para as filhas…
Jesus estava ouvindo tudo isso, quando uma confusão se arma entre as pessoas, e faz que Ele perceba que alguma novidade há por ali. Ao virar-se para ver, o que vê são três homens, que estão procurando abrir caminho por entre a multidão. Jesus se volta de novo para a viúva:
– Onde é que tu moras?
– Em Corozaim, perto da entrada que vai para a Fonte Quente. Moro em uma casa baixa, entre duas figueiras.
– Está bem. Eu virei acabar de fazer o carro e o cofre, e tu os venderás a quem os encomendou. Espera-me amanhã cedo.
– Mas, Tu!? Tu trabalhares para mim?
A mulher está sufocada pelo espanto.
– Eu voltarei a trabalhar no meu ofício, e te darei paz. E, enquanto isso, estarei dando uma lição de caridade aos de Corozaim, que não têm coração.
– Oh! Sim. Sem coração! Se ainda estivesse aqui o velho Isaque! Ele não me teria deixado morrer de fome! Mas ele voltou ao seio de Abraão…
– Não chores. Vai tranquila. Aqui tens o que já serve para hoje. Amanhã Eu virei. Vai em paz.
A mulher se prostra para beijar-lhe a veste, e sai dali mais aliviada.