– Como é que este homem pode saber quem o curou? –pergunta um escriba.
– Isso é uma grande comédia! Estas pessoas foram pagas para fazerem isso –diz um fariseu, encolhendo os ombros.
– Mas, que pessoas? Se é permitido vos perguntar –indaga Jairo.
– A tua pessoa é uma delas.
– E com que finalidade?
– Para tornar célebre a cidade de Cafarnaum.
– Não rebaixes a tua inteligência, até o ponto de ficares dizendo estultices, nem a tua língua, sujando-a com as tuas mentiras. Tu bem sabes que não é verdade, e deverias compreender que estás dizendo uma estultícia. O que aconteceu aqui, aconteceu em muitos lugares de Israel. Será que por toda parte haverá alguém que esteja pagando? Na verdade, eu não sabia que em Israel o povo fosse tão rico assim! Porque vós, e convosco todos os grandes, certamente nada estais pagando pelo que aconteceu. Então, quem paga é o povo, pois somente ele é que ama o Mestre!
– Tu és sinagogo, e o amas. Lá está também Manaém. E em Betânia está Lázaro de Teófilo. Esses não são o povo.
– Mas, eles são honestos, e eu também. E não enganamos a ninguém, em nada. E muito menos nas coisas da fé. Nós não o permitimos, pois tememos a Deus, e chegamos a compreender o que agrada a Deus: a honestidade.
Os fariseus viram as costas para Jairo, e atacam os parentes do que foi curado:
– Quem vos mandou vir até aqui?
– Quem foi?! Ora, foram muitos. Os que já foram curados, e os parentes dos curados.
– Mas, que foi que eles vos deram?
– Que foi que eles nos deram?!
– Pois o que nos deram foi a certeza de que Ele o curaria.
– Mas ele estava doente mesmo?
– Oh! Que mentes traiçoeiras! Achais que ele se tenha fingido em tudo o que aconteceu? Ide a Gadara, e perguntai, se não acreditais, perguntai pela desventura da família de Anás de Ismael.
As pessoas de Cafarnaum, desdenhosas, fazem um grande tumulto, enquanto uns galileus, que chegaram de perto de Nazaré dizem:
– E, no entanto, esse aí é filho de José, o carpinteiro!
Os cidadãos de Cafarnaum, e fiéis a Jesus, bradam:
– Não. Este é o que Ele diz e o que o curado disse: “Filho de Deus e Filho de Davi.
– Mas, não fiqueis aumentando a exaltação do povo com essas vossas afirmações! –diz com desprezo um escriba.
– E que é Ele, então, segundo o vosso entender?
– É um Belzebu!
– Oh! Línguas de víboras. Blasfemadores. Vós é que estais possessos! Vós! Ó cegos de coração! Vós sois a nossa ruína. Até a alegria do Messias quereis tirar de nós, hein? Agiotas! Pedras áridas!
Que balbúrdia!
Jesus, que se havia retirado para a cozinha, para ir beber um pouco d’água aparece na soleira a tempo de ouvir mais uma vez a repetida e estulta acusação dos fariseus:
– Esse aí não é mais do que um Belzebu, pois os demônios lhe obedecem. O grande Belzebu, que é pai dele, o ajuda, e Ele expulsa os demônios, não com algum outro meio, mas somente por obra de belzebu, o príncipe dos demônios.