Ei-la que vem.
Apressam o passo, indo para ela, que vem correndo pela avenida, ao encontro deles.
– Mestre meu! Eu não esperava ver-te tão cedo. Que bondade essa a tua, que te traz até à tua discípula?
– Uma necessidade, Joana.
– Uma necessidade? Qual é? Fala e, se pudermos, te ajudaremos –dizem os dois ao mesmo tempo.
– Encontrei ontem de tarde, em uma estrada deserta, duas pobres crianças… uma menina pequena e um meninozinho…, Descalços, esfarrapados, famintos, sozinhos… e os vi, quando um homem, que tem um coração de lobo, os expulsava, como se fossem lobos. Eles estavam morrendo de fome… Àquele homem Eu havia dado um bem-estar no ano passado. E ele agora negava um pão a dois órfãos. Pois eles são órfãos. Órfãos, e indo pelos caminhos do mundo cruel. Esse homem terá o seu castigo. Quereis vós ter a minha bênção? Eu vos estendo a mão. Sou um mendigo de amor para estes órfãos sem casa, sem roupas, sem alimento, sem amor. Quereis vós ajudar-me?
– Mas, Mestre, Tu o pedes? Dize o que queres, quanto queres, dize tudo –diz, impetuoso, Cusa.
E Joana não fala, mas, com as mãos colocadas sobre o coração, com uma lágrima sobre os longos cílios e um sorriso de desejo sobre seus lábios vermelhos, ela espera, e assim fala mais do que se estivesse falando.
Jesus olha para ela, e sorri:
– Desejaria que aquelas crianças tivessem uma mãe, um pai, uma casa. E que a mãe tivesse o nome de Joana…
Não teve tempo de acabar, porque o grito de Joana é como o de alguém que ficou livre de uma prisão, enquanto ela se prostra para beijar os pés do seu Senhor.
– E tu, Cusa, que dizes a isso? Acolhes em meu nome, estes meus diletos, queridos, oh! muito mais queridos do que jóias para o meu coração?
– Mestre, onde estou eu? Leva-me a eles e, por minha honra, eu te juro que, desde o momento em que eu puser minha mão sobre as cabeças inocentes deles, eu os amarei como um verdadeiro pai, em teu nome.
– Então, vinde. Eu sabia que não viria perder meu tempo. Vinde. Eles são rústicos e espantados, mas são bons. Acreditai em Mim, que vejo os corações e o futuro. Eles darão paz e união à vossa união, não somente agora, mas também no futuro. No amor a eles vós vos encontrareis. Seus inocentes abraços serão a melhor cal para a vossa casa de esposos. E o Céu estará sobre vós, benigno e misericordioso sempre para com a vossa caridade. Já estão do lado de fora da cancela. Estamos vindo de Betsaida…
Joana não escuta mais nada. Ela corre na frente, movida pelo desejo ardente de acariciar crianças.
E ela o faz, caindo de joelhos, para apertar contra o seu seio os dois orfãozinhos, beijando-os em suas faces macilentas, enquanto eles ficam olhando, espantados, a bela senhora de ricas vestes. E olham também para Cusa, que os acaricia, e pega Matias nos braços. E ficam olhando o belo jardim e os servos que vão chegando… E olham a casa, que abre os seus vestíbulos cheios de riquezas para Jesus e para os seus apóstolos. Olham para Ester, que os cobre de beijos.
Um mundo de sonhos abriu-se para os pequeninos desamparados… Jesus observa e sorri.