e o cretense pensa bem, e resolve deixar em paz os seus deuses e descer do Olimpo para a terra, ou melhor, para o mar, para o navio, convidando os apóstolos a irem à proa para verem bem a cidade que se aproxima.
– Lá está, estais vendo? Nunca estivestes aqui?
– Eu, uma vez, mas vindo por terra –diz o Zelotes, sério e breve.
– Ah! Está bem! Então sabes pelo menos que o verdadeiro porto de Antioquia é Selêucia, que está junto ao mar, na foz do rio Orontes, que acolhe com alegria os navios e que, nos tempos de águas profundas, dá passagem por ele às barcas mais leves, que sobem até Antioquia. Aquela que agora estais vendo é Seléucia, a maior. A outra, mais para o sul, não é cidade, mas apenas ruínas de um lugar devastado. Parece ser uma coisa, mas é outra: pois é um lugar morto. Aquela cadeia de montanhas é o Piério, que faz que a cidade seja chamada Selêucia Piéria. Aquele pico mais para dentro, além da planície, é o monte Cásio, que domina, como um gigante, a planície de Antioquia. A outra cadeia, ao norte, é a do Amano. Oh! Vereis que obras, os romanos fizeram na Selêucia e em Antioquia! Maiores não podiam fazer. Um porto com docas, que é um dos melhores, e canais, e antemurais e diques. Tais coisas não há na Palestina. Mas a Síria é melhor do que outras províncias do Império…
Suas palavras têm como resposta um silêncio glacial. Até Síntique que, por ser grega, e menos susceptível do que os outros, também cerra os lábios, e o seu rosto toma, mais do que nunca, o ar cortante de um rosto esculpido em uma medalha ou em um baixo-relevo: um rosto de deusa, desdenhosa para com os contatos terrenos.
O cretense percebe isso, e se acusa:
– Que quereis? Afinal, com os romanos eu saio ganhando!…
A resposta da Síntique é clara, como um golpe de sabre:
– É que o ouro embota o fio da espada da honra nacional e da liberdade –e o diz de uma tal maneira e em um latim tão puro, que o outro fica pasmado.
Depois, ele cria coragem para perguntar:
– Mas tu não és grega?
– Eu sou grega. Mas tu amas os romanos. Eu te falo na língua dos teus patrões, não na minha, a da Pátria mártir.
O cretense fica confuso, e os apóstolos estão silenciosos, mas entusiasmados pela lição dada ao elogiador de Roma.