Jesus começa a falar.
– Aqueles que percorrem as estradas do Senhor, as estradas indicadas pelo Senhor, e as percorrem com boa vontade, acabam encontrando o Senhor. Vós encontrais o Senhor, pois estais vindo depois de terdes cumprido o vosso dever de fiéis israelitas na Santa Páscoa. E eis que a Sabedoria vos fala nesta encruzilhada, onde a Bondade divina fez que nos encontrássemos. Tantas são as encruzilhadas que o homem encontra no caminho de sua vidal E ainda mais encruzilhadas sobrenaturais, do que encruzilhadas materiais. Cada dia nossa consciência se vê colocada na frente de bívios e quadrívios do Bem e do Mal. E ela deve escolher com atenção, para não errar. Porque, se errar, deverá voltar humildemente atrás, ao ser chamada ou advertida por alguém. E, ainda que lhe pareça mais bonito o caminho do Mal, ou simplesmente o da tibieza, ela deve saber escolher o caminho escabroso, mas seguro, do Bem.
Ouvi uma parábola.
Um grupo de peregrinos, que vinha de longínquas regiões, em busca de trabalho, chegou aos confins de uma província. Nesses confins havia muitos homens procurando trabalho, mandados por seus diversos patrões. Uns procuravam homens para as minas, outros para os campos de bosques, outros procuravam servos para um rico infame, e outros, soldados para um rei que residia no alto de um monte, em seu castelo, ao qual se podia chegar por uma estrada muito íngreme.
O rei queria suas milícias, mas exigia que elas fossem, não umas milícias de violência, e sim, de sabedoria, a fim de enviá-las depois pelas cidades, para santificarem os seus súditos. Por isso, ele vivia lá em cima, como em um eremitério, a fim de formar os seus servos, sem que as distrações mundanas os corrompessem, atrasando ou anulando a formação de seus espíritos. Não prometia altos pagamentos. Não prometia uma vida cômoda. Mas garantia que do seu serviço nasceria a santidade e o prêmio. Assim diziam os seus enviados àqueles que chegavam do outro lado da fronteira. Os enviados pelos patrões das minas ou dos campos, por sua vez diziam:
“Não vai ser uma vida cômoda, mas sereis livres, e ganhareis o com que possais ter um pouco de passatempo.”
E os que estavam procurando servos para o patrão infame, prometiam logo comida abundante, ociosidade, prazeres, riquezas:
“Basta que consintais em seus duros caprichos — oh! de modo nenhum insuportáveis! — e gozareis como uns sátrapas.”
Os peregrinos trocaram, então, ideias uns com os outros. Dividirem-se eles não queriam… Perguntaram:
“Mas, os campos e as minas, o palácio do homem gozador e o do rei, estão perto uns dos outros?”
“Oh! não!” responderam os que procuravam homens. “Vinde até aquele quadrívio, e vos mostraremos as diversas estradas.” Eles foram.
“Eis! Esta esplêndida estrada sombreada, florida, plana, com fontes de água fresca, desce até o palácio do Senhor,” disseram os procuradores de homens.
“Esta estrada, que é poeirenta, por entre campos serenos, conduz aos campos. Eis! Está exposta ao sol, mas vede que ainda está bonita,” disseram os dos campos.
“Esta assim sulcada por pesadas rodas e coberta de manchas escuras, mostra a direção das minas,” disseram aqueles das minas.
“Eis. Este caminho escabroso, aberto pelo meio das rochas, que o sol incendeia, cheio de abrunheiros e precipícios, que fazem a gente andar devagar, mas que, em compensação servem de defesa fácil contra os assaltos dos inimigos, conduz ao oriente, ao castelo severo, quase diríamos sagrado, onde os espíritos se formam para o Bem,” disseram os do rei.