Oh! Ele sempre me tratou como um “pequeno”, a fim de melhorar-me em minha miséria, para fazer-se amar. Depois, quando eu o amei com toda mim mesma, Ele me apertou a mão, tratou-me como adulta, e ficou surdo às minhas súplicas: “Mas, não estás vendo que eu não sou boa para nada?” Ele sorriu, e me obrigou a fazer obras de adultos… Oh! somente quando a pobre Maria está mesmo muito aflita, é que Ele torna a ser o Jesus dos meninos para minha pobre alma tão incapaz, e se contenta com… os meus escaravelhos, pedrinhas, florzinhas… que eu consigo dar-lhe… e me dá a entender que acha todas aquelas coisas bonitas… e que Ele me ama, porque eu sou “o nada que se lhe confia, e se perde no Tudo.”
Querido é o meu Jesus! Amado, amado até a loucura! Amado com toda mim mesma! Sim, eu o posso proclamar! Na véspera do meu 49º aniversário, examinando atentamente, na véspera da sentença humana sobre a minha obra como porta-voz, perscrutando atentamente o meu espírito e toda mim mesma, a fim de decifrar as verdadeiras palavras que lia em mim, eu posso dizer, agora, que eu amo e compreendo que amo ao meu Deus com toda mim mesma. Tive que esperar 48 anos para chegar a este amor total, tão total, que não lia nem um pensamento de temor pessoal, na previsão de uma condenação, mas apenas uma angústia pela repercussão que ela poderia ter sobre almas que eu levei para Deus, e que estão convictas de terem sido redimidas por Jesus que vive em mim, e que se separariam da Igreja, que é um anel de conjunção entre a humanidade e Deus.
Dirão alguns: “Não te envergonhas de ter-nos detido tanto tempo?” Não. Na verdade, não. Eu me sentia tão fraca, como um nada, que vos detive todo esse tempo. E, afinal, eu estou convicta de que vos detive exatamente o tanto de tempo que Jesus quis, nenhum um minuto a mais, nenhum a de menos, porque isso eu posso dizer: desde quando eu comecei a compreender o que é Deus, nunca mais recusei nada a Deus. Desde quando, com a idade de quatro anos, eu o percebia tão onipresente, que eu o cria presente até na madeira da pequena cadeira em que eu estava sentada, e lhe pedia desculpas por lhe estar virando as costas, e por me estar apoiando nele, desde quando, ainda aos quatro anos, até durante o sono, eu meditava que os nossos pecados o haviam ferido e matado, e me punha em pé na cama, suplicando, em meu camisolão de dormir, sem ficar olhando para nenhum quadro religioso, mas dirigindo-me ao meu Amado, que foi morto por nós, e suplicando-lhe: “Eu, não! Eu não! Faze-me morrer, mas não digas que eu te feri!” Eia!
Tu bem conheces, ó Amor meu, os meus ardores. Nenhum deles te é desconhecido. Tu sabes que somente o sinal de uma tua proposta imediatamente era aceito pela tua Maria. Mesmo se me propunhas que eu te desse o amor de noiva — e até, justamente naquele tempo, no Natal de 21, é que se firmou o meu amor por Ti —, o amor dos pais, a vida, a saúde, a comodidade… e de me tornar cada vez mais um nada na vida social, um resto que o mundo olha com compaixão, ou com escárnio, uma que não pode tomar um copo d’água, quando está com sede e não tem quem lho dê, uma que está pregada como Tu, como Tu, e como tanto desejei estar, e como eu gostaria tanto de tornar a ficar, se Tu me amasses. Tudo! O nada deu tudo, o seu tudo como criatura… Pois bem, até agora, que eu posso ser julgada mal e interdita, ferida, que é que eu te digo? “Deixa-me a Ti, a tua Graça. Tudo o mais nada é. Somente te peço que não me tires o teu amor, e não permitas que aqueles que eu te dei caiam de novo nas trevas.”
Mas, por onde foi que eu estive andando, ó meu Sol, enquanto Tu ficas dando voltas pelos roseirais? Leva-me para onde o meu coração, que está sujeito a Ti, me leva. E palpita, e incendeia o sangue em minhas veias. E as pessoas dirão: “Ela está com febre e taquicardia!” Não. É que nesta manhã Tu te derramas em mim com a força de um divino furacão de amor. E eu… eu me anulo em Ti, que me penetras, e não consigo entender mais como criatura, mas experimento o que deve ser o modo de viver dos serafins… e ardo, e deliro, e te amo, te amo muito. Tem piedade em teu amor. Piedade, se queres que eu viva ainda para servir-te, ó Amor diviníssimo, eterno, ó Amor dulcíssimo, ó Amor dos Céus e das Criaturas, em tudo ó Amor de Deus…
Mas, não! Não piedade, mas, mais ainda. Até a morte, na fogueira do Amor! Unamo-nos! A fim de que estejamos no Pai, como Tu disseste, ao orares por nós: “Estejam (aqueles que te amam) onde Nós estamos. Uma só coisa.” Uma só coisa! Aí está uma das palavras do Evangelho que sempre me fizeram meditar em um abismo de adoração amorosa. Que foi que pediste para nós, ó meu Divino Mestre e Redentor? Que foi que pediste, ó meu Divino louco de amor! Que nós sejamos uma só coisa contigo com o Pai, com o Espírito Santo, pois quem está em Um, está nos Três, o indivisível e, contudo, livre Trindade do Deus Uno e trino! Bendito! Bendito! Bendito, com todas as minhas palpitações e respiros!…