Mas de Gamala vem descendo, de carreira, alguns moradores, certamente alguns dos notáveis, que chegam até Jesus, e o saúdam, inclinando-se profundamente, convidando-o a entrar na cidade para falar aos moradores que, por sua conta, estão chegando em grandes grupos.
– Vós podeis ir por onde quereis. Estes (e mostra os trabalhadores) não podem.. A hora está ainda fresca e o lugar em que estamos ainda nos protege do sol. Vamos para perto daqueles infelizes para que eles também recebam a Palavra de Vida –responde-lhes Jesus.
E Ele se encaminha na frente deles, voltando sobre os próprios passos, depois, entrando por um caminho acidentado, que se dirige justamente para o pé do morro, precisamente para o ponto em que o trabalho é mais penoso. Ele diz:
– Se estiver em vosso poder fazer o que Eu digo, mandai que o trabalho seja suspenso.
– Certamente nós o podemos. Somos nós que pagamos e, se pagamos as horas em que eles não trabalham, ninguém poderá ficar se lamentando –dizem os de Gamala.
E vão conversar com os capatazes, que eu estou vendo como depois de alguns instantes, levantam os ombros, como para dizer: “Estais contentes, vós? Mas nós, que temos com isso?”
E depois dão uns assobios para as turmas, como sinal de que devem parar.
Jesus, enquanto isso, falou com outros de Gamala, que eu estou vendo como fazem sinais de consentimento e partem, em passos rápidos, voltando para a cidade.
Os trabalhadores se aproximam cheios de medo, indo ficar ao redor dos capatazes.
– Parai o trabalho. O barulho aborrece ao filósofo –ordena um deles, talvez o chefe de todos.
Os trabalhadores olham com seus olhos cansados para aquele que foi chamado de “filósofo”, e que lhes está dando o presente de uma parada. E esse “filósofo”, olhando para eles com piedade, corresponde ao olhar deles e às palavras do capataz, dizendo:
– Não é o barulho que me aborrece, mas o que me dá pena é a miséria deles. Vinde, meus filhos. Descansai vossos membros, e, ainda mais os vossos corações, ao lado do Cristo de Deus.
O povo, os escravos, os condenados, os apóstolos, os discípulos se aglomeram dentro do espaço livre, entre o monte e as trincheiras, e quem não acha lugar por ali, sobe para a fileira mais alta das trincheiras, ou se arruma sobre os blocos de pedra deixados pelo chão, e os menos sortudos se resignam a ir para a estrada, aonde já estão chegando os raios do sol. E sempre outras pessoas vão chegando, de Gamala, ou então vão ficando parados aqueles que estavam vindo de outros lugares para Gamala.
É grande a multidão. E no meio dela vão abrindo passagem os que haviam saído pouco antes. Eles trazem cestos e vasilhas pesadas. E conseguem abrir caminho até Jesus, que ordenou aos aos apóstolos que colocassem na primeira fila os trabalhadores. Eles põem os cestos e ânforas aos pés de Jesus.
– Dai a estes a oferta da caridade –ordena Jesus.
– Receberam seu alimento, e ainda há água e pão. Se comem muito, ficam pesados para o trabalho –grita um dos capatazes.
Jesus olha para ele e repete a ordem dada:
– Dai a estes um alimento de homens, e trazei para mim o alimento deles.
Os apóstolos, ajudados pelos que estão dispostos a isso, fazem o que foi mandado.
O alimento deles! É uma espécie de crosta escura, dura, que não servia nem para ser dada aos animais, pouca água, misturada com vinagre. Eis o alimento de uns pobres forçados! Jesus olha e manda colocar no chão aquela miserável comida. Depois olha para aqueles que deviam consumi-la, uns corpos desnutridos nos quais somente os músculos, excessivamente desenvolvidos por causa dos esforços acima dos comuns, resistem com feixes de fibras que parecem querer saltar para fora da pele frouxa, com olhos febris e amedrontados, com umas bocas ávidas e quase animalescas quando mordem a comida boa, abundante, inesperada, e quando bebem o vinho, o verdadeiro vinho fortificante e fresco…
Jesus espera com paciência que eles terminem a refeição. E não precisa esperar muito, porque a avidez é tão grande que logo tudo se acaba.