Em certo momento, porém, Ele se vira de repente, até soltando a mão do pai, e para. Aí Ele se vira, não somente com a cabeça, mas com todo o corpo. Fica, então parecendo mais alto, porque tomou a atitude de um rei. Com um rosto e um olhar severos, inquiridores, Ele perscruta a multidão. Seus olhos lampejam, não por dureza. Mas cheios de majestade.
– Quem foi que tocou em Mim? –pergunta Ele.
Ninguém lhe responde.
– Quem foi que me tocou? Repito –insiste Jesus.
– Mestre –respondem-lhe os discípulos–, não estás vendo como a multidão esbarra em Ti por todos os lados? Todos estão tocando em Ti, apesar de todos os nossos esforços.
– Eu pergunto, quem foi que me tocou para conseguir um milagre. Eu percebi o poder de um milagre saindo de Mim, porque um coração o estava invocando com fé. Onde está esse coração?
Os olhos de Jesus se inclinam duas ou três vezes, enquanto Ele fala, para o lado de uma mulherzinha, já na casa dos seus quarenta anos, muito pobremente vestida e muito emagrecida no rosto, a qual está fazendo esforço para sumir no meio do povo e não ser engolida pela multidão. Aqueles olhares devem estar incidindo sobre ela, e queimando-a. Mas, afinal, ela compreende que não pode escapar, e vem para frente, joga-se aos seus pés, quase com o rosto por terra, com as mãos estendidas, mas sem ousar tocar em Jesus.
– Perdão! Sou eu. Eu estava doente. Há doze anos que eu estava doente. Evitada por todos. Meu marido me abandonou. Gastei todos os meus haveres para não ser considerada uma vergonha, e para poder viver como todos vivem. Mas ninguém foi capaz de curar-me. Estás vendo, Mestre? Eu estou velha, antes do tempo. A força saiu de mim com aquele meu fluxo incurável, e com ela lá se foi também a minha paz. Disseram-me que Tu és bom. Quem o disse foi um que foi curado por Ti da sua lepra e que, por ter sido durante muitos anos evitado por todos, não teve nojo de mim. Eu não tive coragem de dizer isso antes. Perdão! Pensei que, logo que tivesse tocado em Ti, ficaria curada. Mas eu não te fiz ficar impuro. Eu apenas rocei pela aba de tua veste, no ponto em que ela ia se arrastando pelo chão, sobre as sujeiras do chão… Eu também sou uma sujeira… Mas estou curada, e que Tu sejas bendito! No momento em que toquei na tua veste, o meu mal cessou. Agora tornei-me como todas. Já não serei evitada por todos. Meu marido, os meus filhos, os parentes poderão ficar perto de mim, e eu poderei acariciá-los. Vou poder ser útil a minha casa. Obrigada, Jesus, bom Mestre. Que tu sejas bendito para sempre!
Jesus olha para ela com uma grande bondade. E lhe sorri. E lhe diz:
– Vai em paz, minha filha. A tua fé te salvou. Fica curada para sempre. Sê boa e feliz. Vai!…