– Mas qual o motivo de me quereres ver, com tanto incômodo?
– Mestre, José e Nicodemos querem falar-te, e pensaram em fazê-lo de tal modo que despistassem todos os vigias. Já tentaram fazê-lo outras vezes, mas Belzebu deve ajudar muito os teus inimigos. Tiveram sempre que renunciar a vir, porque não ficava sem vigilância nem a casa deles, nem a de Nique. Pelo contrário, a mulher devia vir antes de mim. É uma mulher forte, e sozinha ela já se havia posto a caminho do Adonim. Mas foi acompanhada e parou perto da Subida do Sangue, e ela, para não dar a entender qual era o lugar onde estavas, e para justificar a presença dos alimentos que iam sobre sua cavalgadura, disse: “Vou subindo para a casa de um meu irmão, que fica numa das grutas sobre os montes. Se quereis vir, vós que falais sobre Deus, faríeis uma obra santa, porque ele está doente e sente necessidade de Deus.” E com estas palavras os persuadiu a irem-se embora. Mas não ousou mais vir aqui, e de fato foi à casa de um que ela diz que mora numa gruta e que por Ti foi a ela recomendado.
– É verdade. Mas como é que Nique pôde, então, levar isso ao conhecimento de outros?
– Ela foi a Betânia. Lázaro não está mais lá. Mas estão lá as irmãs dele. Maria lá está. E Maria, por acaso, é mulher que se amedronte com alguma coisa? Ela se vestiu, como talvez nem Judite tenha feito quando foi apresentar-se ao rei, e depois foi ao Templo publicamente, junto com Sara e Noemi, e, em seguida, ao seu palácio em Sião. E de lá ela mandou Noemi ir ter com José, para lhe dizer algumas coisas. E, enquanto isso… astutos, os judeus iam ou mandavam pessoas à casa dela para… prestar-lhe honras, e todos podiam vê-la, senhora em sua casa, e a velhinha Noemi, com vestes modestas, ir a Bezeta, à casa do Ancião. Concordamos, então, todos, e eu fui mandado até aqui, eu, o nômade que não desperta suspeita se for visto cavalgando, a rédeas soltas de uma para outra das residências de Herodes, para chegar até aqui e dizer-te que, na noite de sexta para sábado, José e Nicodemos, vindo um de Arimatéia e o outro de Ramá, antes do pôr-do-sol, se encontrarão em Gofená e lá te ficarão esperando. Eu conheço o lugar e o caminho, e virei até aqui para conduzir-te. Em mim Tu podes confiar. Mas confia somente em mim, Mestre. José recomenda que ninguém fique sabendo deste nosso encontro para o bem de todos.
– Para o teu também, Manaém?
– Senhor, eu sou eu. Mas não tenho que tomar conta dos bens e negócios da família, como José.
– E isso vem confirmar as palavras que Eu disse, que as riquezas materiais são sempre um estorvo… Mas, mesmo assim, dize a José que ninguém ficará sabendo do nosso encontro.
– Agora já posso ir, Mestre. O sol já nasceu e os teus discípulos poderiam começar a levantar-se.
– Então, vai, e Deus esteja contigo. E Eu te acompanho para fazer-te ver o ponto onde nos encontraremos na noite de sábado…
Descem sem fazer barulho e saem da horta, indo em seguida pelas margens da torrente.